O NOME, O NÚMERO E O HOMEM.
Adoro nomes. Não pelas suas – às vezes, diga-se – plásticas belezas. Recentemente, escrevi uma crônica e nela relato o meu amor a um homem e ao seu belo nome: Benício Barbosa Santiago. Vovô Benício! Biniço, para os seus amigos e companheiros de labuta no árduo trabalho na roça. Contudo, não falarei do meu querido Vô – antes, já o fizera! Pretendo falar de nomes e, principalmente, de números. Falar das suas correlações.
Vovô (E lá vou eu, meu Deus, a fazer citações ao meu querido velho – entendam-me, por favor: amo-o demais!) dizia-me sempre, nos nossos momentos de prosas e reflexões, que: – “O nome de um homem, meu netinho, é a coisa mais importante que existe”. E ia mais além: -“O fio de cabelo – da barba ou bigode isso não importava – era dado, no meu tempo, como garantia do nome ao assumir um compromisso social ou financeiro!”.
Bons tempos aqueles, não é Vovô? Tempos nos quais a palavra ética não era tão conhecida, difundida, mas era, acima de tudo, praticada. Hoje há muita difusão da palavra, contudo, a prática é ilusória, efêmera, chegando às raias do eufemismo. (Ó, raios! Aqui estou a falar sobre ética e saudosismo quando, em verdade, quero – será que posso, teimosas elucubrações? – dissertar sobre nomes, números e o homem? Se as saudades dos bons tempos deixarem, tentarei. Vamos lá?).
Nos saudosos tempos, não havia tanta diversidade de nomes. Mesmo porque, havia mais confiabilidade no fio de cabelo do bigode ou barba. O nome propriamente dito era mera formalidade. José poderia ser um nome comum em uma cidade, bairro ou mesmo em uma região. Quando isso acontecia, o José era identificado como sendo o Zé da Rita, da Ponte, da Venda ou do Buraco... A Rita poderia ser a esposa – geralmente era a mãe quem dava este diferencial! O da Ponte era a referência ao local onde, perto, o Zé morava. O da Venda era o local do qual o Zé era o dono e o do Buraco, era pelo fato de morar perto de um!
No querido e amado agreste nordestino brasileiro o nome José é um denominador comum. Existe uma canção na qual o autor canta uma letra que diz, entre outras coisas: “Vixe, como tem Zé! / Zé de Baixo, Zé de Riba? Discunjuro cum tanto Zé. / Como tem Zé lá na Paraíba!”.
E Cícero? Santo Deus! Como tem Cícero na citada região! Por influência do Padre Cícero Romão, a maioria dos que são lá nascidos fora batizada com o nome do Santo Padre, por eles aclamado e reverenciado como sendo o “Padim Pade Ciço”. E tomem Cíceros por todos os cantos do agreste! E lá, os Cíceros serão – como os “Josés” – da Rita, da Ponte, da Venda ou do Buraco – e por aí vai!
Hoje, nomes não há – nem ética! Os identificadores são: RG, CPF, nº do Título de Eleitor, etc e tal! Nunca o próprio nome. Em um Banco – para se abrir uma conta ou efetuar um saque – pede-se o conjunto de números que compõem a sua senha. Em um futuro – no qual vislumbro não estar muito distante – vão nos pedir mais números capazes de nos identificarem, dentre eles, o do exame de DNA.
E assim pensando, viajemos, pois, nas Asas da Imaginação: Estamos adentrando em uma máquina do tempo e ela nos transportou para o futuro. Agora, nós estamos diante de um balcão de uma repartição pública (Ah! Devo dizer que a burocracia ainda existe e persiste – ela é imortal, viram?) e uma ASPONE (Assessora de Porra Nenhuma.) pede as minhas identificações. Entrego-as! Ao examiná-las, nota que estão faltando vários e indispensáveis itens (Ops!) digo, números. Querendo saber, indago:
-Quais são?
-Estão faltando... hum... “peraí”... deixa ver. Ah, sim! O dia e a hora em que os seus pais iniciaram o coito que o gerou, a hora da extrusão dos espermatozoides, o tempo gasto pelos mesmos ao percorrer os canais na corrida para a fecundação do óvulo, constando hora e com a devida comprovação médica e firma reconhecida, dia e hora do nascimento, local em que nasceu constando nome e número do logradouro, o número do Registro de Nascimento e...
Estava tonto ante tantas exigências. Indaguei aos meus botões:
-E o fio de cabelo do meu bigode, nada vale? Não há credibilidade para com a minha pessoa? O que sou? Ou quem sou? Nada mais ou nada menos que meras configurações numéricas?
Para provar que eu sou eu mesmo, terei que portar um monte de números que irão dar-me a veracidade da minha identificação. Não possuo nome. Sou um número inserido em um louco sistema computadorizado. Não sou humano: sou máquina! Não sou máquina: sou uma mera engrenagem deste tolo mundo parvo – sou um Robô... Assim pensam os homens!
Contudo, não sou somente isso. Diante do meu Deus, continuo sendo uma criação Dele. E a Ele, a cada nascer de um novo dia, agradeço-O por estar vivendo o primeiro dia da vida que a mim resta viver. Ontem foi o primeiro; hoje é o primeiro; amanhã será o primeiro e assim – até quando Ele permitir – sempre estarei vivendo o primeiro dia da vida que a mim resta. E assim pensando, imagino quando da chegada do meu último dia, na quantidade de números que irão inserir na minha lápide, a saber: O dia e a hora em que os seus pais iniciaram o coito que a mim gerou, a hora da extrusão dos espermatozoides, o tempo gasto pelos mesmos ao percorrer os canais na corrida para a fecundação do óvulo, constando – claro está – hora e com a devida comprovação médica e firma reconhecida, dia e hora do nascimento, local em que nasceu constando nome e número do logradouro, o número do Registro de Nascimento, dia e hora da minha internação, os números do atestado de óbito com dia e hora inseridos, do meu RG, CPF e, encabeçando todos estes números, estarão os da própria lápide e quadra. E, por não haver a devida necessidade, o meu nome ou o fio de cabelo do meu bigode – por serem meras e tolas formalidades – não se farão presentes!
Agora, gostaria de perguntar: já que me deram tantos números, porque não me dão um mísero número zero a ser acrescido aos meus salários? Isso não me fora dado. Inúmeros outros quesitos povoam minha mente – não vem, contudo, ao caso!
Ainda haverá um novo número a ser acrescido à minha lista de identificação: Agora sou, dentro do contexto social, um mero e execrável 0800!
Adoro nomes. Não pelas suas – às vezes, diga-se – plásticas belezas. Recentemente, escrevi uma crônica e nela relato o meu amor a um homem e ao seu belo nome: Benício Barbosa Santiago. Vovô Benício! Biniço, para os seus amigos e companheiros de labuta no árduo trabalho na roça. Contudo, não falarei do meu querido Vô – antes, já o fizera! Pretendo falar de nomes e, principalmente, de números. Falar das suas correlações.
Vovô (E lá vou eu, meu Deus, a fazer citações ao meu querido velho – entendam-me, por favor: amo-o demais!) dizia-me sempre, nos nossos momentos de prosas e reflexões, que: – “O nome de um homem, meu netinho, é a coisa mais importante que existe”. E ia mais além: -“O fio de cabelo – da barba ou bigode isso não importava – era dado, no meu tempo, como garantia do nome ao assumir um compromisso social ou financeiro!”.
Bons tempos aqueles, não é Vovô? Tempos nos quais a palavra ética não era tão conhecida, difundida, mas era, acima de tudo, praticada. Hoje há muita difusão da palavra, contudo, a prática é ilusória, efêmera, chegando às raias do eufemismo. (Ó, raios! Aqui estou a falar sobre ética e saudosismo quando, em verdade, quero – será que posso, teimosas elucubrações? – dissertar sobre nomes, números e o homem? Se as saudades dos bons tempos deixarem, tentarei. Vamos lá?).
Nos saudosos tempos, não havia tanta diversidade de nomes. Mesmo porque, havia mais confiabilidade no fio de cabelo do bigode ou barba. O nome propriamente dito era mera formalidade. José poderia ser um nome comum em uma cidade, bairro ou mesmo em uma região. Quando isso acontecia, o José era identificado como sendo o Zé da Rita, da Ponte, da Venda ou do Buraco... A Rita poderia ser a esposa – geralmente era a mãe quem dava este diferencial! O da Ponte era a referência ao local onde, perto, o Zé morava. O da Venda era o local do qual o Zé era o dono e o do Buraco, era pelo fato de morar perto de um!
No querido e amado agreste nordestino brasileiro o nome José é um denominador comum. Existe uma canção na qual o autor canta uma letra que diz, entre outras coisas: “Vixe, como tem Zé! / Zé de Baixo, Zé de Riba? Discunjuro cum tanto Zé. / Como tem Zé lá na Paraíba!”.
E Cícero? Santo Deus! Como tem Cícero na citada região! Por influência do Padre Cícero Romão, a maioria dos que são lá nascidos fora batizada com o nome do Santo Padre, por eles aclamado e reverenciado como sendo o “Padim Pade Ciço”. E tomem Cíceros por todos os cantos do agreste! E lá, os Cíceros serão – como os “Josés” – da Rita, da Ponte, da Venda ou do Buraco – e por aí vai!
Hoje, nomes não há – nem ética! Os identificadores são: RG, CPF, nº do Título de Eleitor, etc e tal! Nunca o próprio nome. Em um Banco – para se abrir uma conta ou efetuar um saque – pede-se o conjunto de números que compõem a sua senha. Em um futuro – no qual vislumbro não estar muito distante – vão nos pedir mais números capazes de nos identificarem, dentre eles, o do exame de DNA.
E assim pensando, viajemos, pois, nas Asas da Imaginação: Estamos adentrando em uma máquina do tempo e ela nos transportou para o futuro. Agora, nós estamos diante de um balcão de uma repartição pública (Ah! Devo dizer que a burocracia ainda existe e persiste – ela é imortal, viram?) e uma ASPONE (Assessora de Porra Nenhuma.) pede as minhas identificações. Entrego-as! Ao examiná-las, nota que estão faltando vários e indispensáveis itens (Ops!) digo, números. Querendo saber, indago:
-Quais são?
-Estão faltando... hum... “peraí”... deixa ver. Ah, sim! O dia e a hora em que os seus pais iniciaram o coito que o gerou, a hora da extrusão dos espermatozoides, o tempo gasto pelos mesmos ao percorrer os canais na corrida para a fecundação do óvulo, constando hora e com a devida comprovação médica e firma reconhecida, dia e hora do nascimento, local em que nasceu constando nome e número do logradouro, o número do Registro de Nascimento e...
Estava tonto ante tantas exigências. Indaguei aos meus botões:
-E o fio de cabelo do meu bigode, nada vale? Não há credibilidade para com a minha pessoa? O que sou? Ou quem sou? Nada mais ou nada menos que meras configurações numéricas?
Para provar que eu sou eu mesmo, terei que portar um monte de números que irão dar-me a veracidade da minha identificação. Não possuo nome. Sou um número inserido em um louco sistema computadorizado. Não sou humano: sou máquina! Não sou máquina: sou uma mera engrenagem deste tolo mundo parvo – sou um Robô... Assim pensam os homens!
Contudo, não sou somente isso. Diante do meu Deus, continuo sendo uma criação Dele. E a Ele, a cada nascer de um novo dia, agradeço-O por estar vivendo o primeiro dia da vida que a mim resta viver. Ontem foi o primeiro; hoje é o primeiro; amanhã será o primeiro e assim – até quando Ele permitir – sempre estarei vivendo o primeiro dia da vida que a mim resta. E assim pensando, imagino quando da chegada do meu último dia, na quantidade de números que irão inserir na minha lápide, a saber: O dia e a hora em que os seus pais iniciaram o coito que a mim gerou, a hora da extrusão dos espermatozoides, o tempo gasto pelos mesmos ao percorrer os canais na corrida para a fecundação do óvulo, constando – claro está – hora e com a devida comprovação médica e firma reconhecida, dia e hora do nascimento, local em que nasceu constando nome e número do logradouro, o número do Registro de Nascimento, dia e hora da minha internação, os números do atestado de óbito com dia e hora inseridos, do meu RG, CPF e, encabeçando todos estes números, estarão os da própria lápide e quadra. E, por não haver a devida necessidade, o meu nome ou o fio de cabelo do meu bigode – por serem meras e tolas formalidades – não se farão presentes!
Agora, gostaria de perguntar: já que me deram tantos números, porque não me dão um mísero número zero a ser acrescido aos meus salários? Isso não me fora dado. Inúmeros outros quesitos povoam minha mente – não vem, contudo, ao caso!
Ainda haverá um novo número a ser acrescido à minha lista de identificação: Agora sou, dentro do contexto social, um mero e execrável 0800!