ESSES DIAS PASSEI UMA TARDE NA LAJE
Lugar amplo sabe; a laje aqui de casa. Esses dias passei uma tarde inteira almejando a vastidão e sentindo saudade de lugares que nunca visitei, mas tinha um morro; avista logo de casa, de frente, saindo da porta à frente. Eu ia lá quando 7 ou 8 anos mais jovem. Local de batalha de pipas, de roubar cana, de fugimento e machucados também. Peguei uma cadeira não confortável (porque não era hora de relaxar mas viajar), o quão rápido se passa o tempo; o meu e o do morro. O morro já recebeu visitas de minha mãe em sua criancice, quando nem imaginava filhos e desgostos da vida. Do morro não sinto falta mas é a primeira coisa que vejo logo ao sair de casa; depois vem a laje, tantos olham e tantos não foram e, vire e mexe o queimam como forma de dominar o seu plantio. Até esta cena me venho hoje na cabeça, irei explicar: quando acontece toda fumaça inunda todas as lajes pra cá; a vizinhança fica furiosa não pelo morro é claro, as vítimas são as roupas em varais. Não furiosos pelos animais que vivem no morro mas o cheiro de queimado que incomoda a petulância do ser.
Percebi ao acontecer queimadas o morro continua intacto, ainda o meu contentamento é o mesmo no qual ele está envolvido; meus olhos quando vou à laje de casa, aqui continua tudo muito quieto, céu cinza como é nas cidades serranas, pacato, o morro é a cereja do bolo para um devaneio sucinto e medíocre ao qual é o meu pertencimento da vida. Um surrealismo digno de René Magritte. Ele tá lá (o morro) tão velho como eu no entanto, eu continuo com minha admiração sobre ele.
Passa um trilho de trem por perto, o trem inclusive; ele é largo... não o trilho mas o morro. Estava pensando sentado na cadeira bem antes de pensar em pegar o caderno e a caneta para então escrever sobre o morro, essa necessidade de imortalizar o que só eu enxergo e me orgulho, não falo do morro por agora mas das entrelinhas da qual a existência verdadeiramente faz todo o sentido. Eu já mudei tanto e me mudei de lugar e o morro; ainda lá. E sei da parte que ele têm comigo; da parte que devo a ele e aos companheiros que foram.
O dia aqui está lindo, comecei escrever estava sol, apenas no morro porém já é noite, escurece o céu, o cinza some, meu café esfriou e não almocei até agora. Uma mistura de invariabilidade e sublimidade por ser quase um morro santo que ouviu e viu todo tipo de pecado. O morro continua, por mais que eu deixe vós ansiosos pela tal descrição a história dele que envelopa outros, há todo tempo existe algo que te faz lembrar ser algo, de vez em quando uma pintura, uma bicicleta, um gesto, um momento, uma rua, um vento, em mim há um morro.