Ela me olhava com longas reticências poéticas. Um silêncio navalha cortava o cenário em fatias finas e delicadas. Era um velório. Não cabia lamúria ou discurso. Todos se entreolhavam. Procurando sanar uma culpa atávica, enterrado no medo de não ser aceito pelo que simplesmente é...
Passei diante do caixão ornado com flores tão cheirosas, que me recordava primaveras ultrapassadas. E, a ideia da morte diante da flor mais parecia uma metáfora do que uma contundência final.
Ficava a lembrar, as suas últimas palavras... Seus derradeiros gestos, e a tristeza intrínseca que cativava nos comentários mais comezinhos. Acho que não herdei sua sabedoria, o que me fez ser para sempre um aprendiz.
No rosto da minha inimiga declarada, havia olhos injetados de ódio e desprezo e, expressões ferinas de escárnio e desprezo. Passei os olhos em toda cena, em cada personagem ali presente, como se supervisionasse uma peça teatral. Achei todos muito convicentes e engraçados. Aliás, toda vez que estou aturdida, procuro a comédia ínsita no cotidano que parece me espreitar, até um dar um risinho tímido, porém veraz.
O padre veio até a capela para entoar a última prece e encomendar o defunto como se fosse um presente enigmático aos céus. Rezava intimamente, para que seu espírito seguisse em luz e na paz merecida. Cumprimentei uma menina desconhecida. Reconhecia, no entanto, traços fisionômicos familiares, provavelmente a filha de parente próximo. Mas, por ser anônima e infante era mais fácil apenas cumprimentá-la, era como se fosse uma porta-voz. Meus últimos passos em direção a saída, era um alívio progressivo e libertador. Todos os presentes nada entenderam. Pois acreditavam que eu iria me "adonar" do defunto. Mas, eu não me adonava nem de mim, quiçá de outrem. No último parágrafo descritivo e aflitivo, precisei entender seus maus momentos, seus defeitos imperdoáveis, assim como, os fatícinios que sofrera por uma vida repleta de agruras e abandono. Enfim, a paz o libertará, daqui e do além. Todos seremos livres, um dia.
Passei diante do caixão ornado com flores tão cheirosas, que me recordava primaveras ultrapassadas. E, a ideia da morte diante da flor mais parecia uma metáfora do que uma contundência final.
Ficava a lembrar, as suas últimas palavras... Seus derradeiros gestos, e a tristeza intrínseca que cativava nos comentários mais comezinhos. Acho que não herdei sua sabedoria, o que me fez ser para sempre um aprendiz.
No rosto da minha inimiga declarada, havia olhos injetados de ódio e desprezo e, expressões ferinas de escárnio e desprezo. Passei os olhos em toda cena, em cada personagem ali presente, como se supervisionasse uma peça teatral. Achei todos muito convicentes e engraçados. Aliás, toda vez que estou aturdida, procuro a comédia ínsita no cotidano que parece me espreitar, até um dar um risinho tímido, porém veraz.
O padre veio até a capela para entoar a última prece e encomendar o defunto como se fosse um presente enigmático aos céus. Rezava intimamente, para que seu espírito seguisse em luz e na paz merecida. Cumprimentei uma menina desconhecida. Reconhecia, no entanto, traços fisionômicos familiares, provavelmente a filha de parente próximo. Mas, por ser anônima e infante era mais fácil apenas cumprimentá-la, era como se fosse uma porta-voz. Meus últimos passos em direção a saída, era um alívio progressivo e libertador. Todos os presentes nada entenderam. Pois acreditavam que eu iria me "adonar" do defunto. Mas, eu não me adonava nem de mim, quiçá de outrem. No último parágrafo descritivo e aflitivo, precisei entender seus maus momentos, seus defeitos imperdoáveis, assim como, os fatícinios que sofrera por uma vida repleta de agruras e abandono. Enfim, a paz o libertará, daqui e do além. Todos seremos livres, um dia.