Uma vida interessante
Eu sempre me perguntei o que é ter uma vida feliz. O que seria necessário para alcançar a felicidade para sempre, mais almejada que o pote de ouro no fim do arco-íris. Quando se é adulto, não há muito que pensar fora essas questões que parecem tanto intrigantes quanto perda de tempo.
Quando criança, você acredita que felicidade – ou melhor, você só vive a felicidade como um dia de chuva para brincar nas poças de lama. Não ter aula e ficar em casa assistindo na tv os desenhos animados preferidos. Ganhar um sorvete ou um pirulito por ser um bom menino. Ir a festa de aniversário, comer bolo, brincar com os amigos e estourar os balões. Mas a maior felicidade é chegar aos dezoitos anos e ser gente grande.
Bem, quando você chega aos dezoitos, a felicidade significa o cumprimento das metas tradicionais: ter um bom emprego, ganhar algum dinheiro para ter uma poupança, ser casado e ter filhos. Isso traz felicidade? Claro que sim. No entanto, percebi que se alterou um pouco esse modelo de felicidade. Almeja-se agora uma vida interessante: ter sucesso antes dos trinta anos, viajar para lugares incríveis, ser uma pessoa bonita e sociável, com um parceiro tão maravilhoso quanto se é e postar tudo em fotos lindas e perfeitas nas redes sociais.
Não digo que essa vida não seja sinônimo de felicidade plena, mas me parece muito cansativa por ser perfeita demais. Queria me lembrar de ser feliz nas pequenas coisas do dia a dia, como quando era criança. Claro que quero tudo isso, mas quero mais. Quero uma vida feliz e interessante e simples.
Quero ter a coragem de mudar de cidade ou de ir morar sozinha. De investir em algo que gosto, sem me censurar que não vai me deixar rica. Me desafiar em fazer algo que nunca fiz. Talvez mudar de emprego ou de prato predileto. Cortar o cabelo num corte novo e ousado. Começar de novo, se preciso. Fazer alguma loucura de amor ou viajar só com a passagem de ida. Parecem ideias bem inconsequentes, e são. Não digo que farei alguma ou todas, mas não custa sonhar. E isso para mim é uma vida interessante.
Ter uma vida interessante não é prerrogativa de uma classe ou alguém específico. É gente que assimilou bem as regras do jogo (trabalhar, casar, ter filhos, morrer e ir para o céu), mas entende que uma vida interessante é menos burocrática e rígida, mas exige mais intensidade.