Bagaço de cana
Zonzo das ideias, caminhava na estrada do nunca, com destino à lugar nenhum. Sem a proteção dos santos, o pé de coelho de nada adiantou, e a vela apagou antes dos quatorze dias. Rezou Ave-Maria, o terço de São Bento, e o dragão cuspiu maus pensamentos. Achou a cruz pesada, não podia ser Jesus; deixou o martírio sem ser herói.
Com o ceticismo à flor da pele, olhou para o céu, viu uma nuvem densa, e imaginou Deus zangado. Se não sou seu filho, no mínimo, sou afilhado; pensou. Dizia-se agnóstico, tudo era fruto do acaso. Gostava de praguejar, os palavrões saltavam-lhes a boca, era um devasso, vil, sacana. Frouxo que nem calcinha sem elástico, e folgado que nem cavaco sambado. Nunca vi, um sujeito mais atrapalhado.
Muito tempo na esbórnia, gastava a fortuna que tinha; herança de uma virgem tia. O cabaré foi sua perdição; investiu cada centavo em troca de atenção. E quando o dinheiro acabou, o vigor já não existia, estava velho e cansado; um bagaço de cana sem serventia.