Pernas bambas (30.10.2016 - para 19.11.2016)
Primeiro dia de aula como professora.
Antes de passar pela porta, percebi que minhas pernas estavam bambas e pensei: "O que pensariam se a professora caísse lá na frente da sala? Normalmente, os professores ficam de pé, mas... E se eu ficasse sentada?... Não! Não, não! Ainda é o primeiro dia de aula, como é que vou dar aula sentada?!".
Minha caixolinha estava realmente bem confusa e embaralhada. Mas uma coisa ela conseguiu pensar direito e isso me fez esquecer de onde eu estava por um momento:
Será que eu conseguiria fazer algo pelo menos parecido com o que os _meus_ professores fizeram na minha época de colégio? Será que conseguiria ser tão reflexiva como o professor de História da Arte? (A minha letra, pelo menos, já sabia que parecia com a dele).
Será que conseguiria explicar tão bem como o professor de Biologia? É, aquele baixinho que todo mundo tirava onda... E saber falar tão belamente sobre o futuro e o presente como o professor de Matemática? É, aquele que usava óculos e de quem todo mundo, de início, tinha medo...
E a parte da descontração na aula? Será que eu saberia fazer aquele tipo de piada do professor de Gramática? Será que, ainda como ele, eu saberia fazer as pessoas prestarem atenção em mim com os olhos vidrados?
Essas e outras características dos outros professores também me ocorreram e isso me fez sorrir, porque era sempre muito bom lembrar daquele tempo.
Tudo isso se passou em minha cabeça no instante entre meu ato de parar na frente da porta e a coordenadora (a sempre bela Tia Gina) me dizer que eu poderia entrar quando ela terminasse de falar com os alunos lá dentro e abrisse a porta para mim.
Só quando fiquei sozinha no corredor, percebi que não somente minhas pernas estavam com os sintomas do nervosismo, mas também minhas mãos e minha respiração.
Lembrei-me da minha Aula da Saudade do 3º ano e pensei se, algum dia, algum dos meus alunos chegaria a... Sei lá, me imitar? Ou escrever algo para mim no dia dos professores? Mas poderia ser que, na vida de muitos, eu fosse a presença mais insignificante...
Porém, desde minha época de colégio, aprendi que essa profissão tem que ser em função daqueles por quem vale a pena lutar!
Muitas coisas passam despercebidas, como: hoje, só conseguimos ler e resolver uma questão porque, um dia, uma das “tias do outro lado” nos ensinou a juntar as sílabas ou que nos iniciaram em um mundo onde “2+2= 4; 4x2=8”...
Poxa, um dia me perguntaram, assim de brincadeira:
- Paulia, tu vai fazer Letras?
- Vou - respondi.
- Mas como, se as letras já estão feitas?
Fiquei com uma cara de concha nessa hora... Mas a minha resposta foi a seguinte: uma letra sozinha não é capaz de emocionar ninguém. Eu vou aprimorar minha habilidade de juntá-las em palavras, estas em frases e estas, ainda, em textos; que poderão ser capazes de fazer rir ou de fazer chorar.
Enquanto redigia esse texto, fiquei pensando em qual categoria ele se enquadraria. Fiquei me perguntando se essa minha escrita poderia retribuir toda a emoção que meus professores me fizeram sentir em sala de aula.
Mas, mesmo que essa homenagem fale mais da relação da Paulia com os professores, ela é de todos nós que tivemos nossas vidas mudadas, ainda que de forma mínima, por causa de alguns tapas de realidade que esses belos profissionais nos deram em sala... Profissionais estes que foram nossos alicerces desde a primeira vez que vestimos nossa fardinha do colégio e fomos levados pelos pais até aquele prédio que viria a tornar-se nossa segunda (ou terceira) casa.
O 3º ano de 2016 agradece a todos vocês por tudo o que fizeram por nós em todos esses anos de escola! Muito obrigada!
Paulia Barreto