Vida boa
Gato, meu amigo, minha companhia. De manhã, preguiçoso, se esparrama no sofá. Gosto dele – bichano preto e branco.
Creio que por mim nutra simpatia, amizade – ao menos um pouco. Vida boa a dele: Come ração de primeira, na hora certa, água mineral, leite.
Plena e ampla liberdade. Está sempre “de boa”. Não tem nenhuma responsabilidade. Nós, humanos, as temos até demais.
Preciso trabalhar, pagar minhas contas, ter cuidado nas ruas (porque a violência e criminalidade estão aí, de “montão”).
Molengo, como os gatos são, quase todos o são assim, devagar, quase parando. É a genética.
Na sala, nós dois. Me observa, preguiçoso, às vezes indiferente.
Me encara. Abre e fecha os olhos, lentamente. Dorme, acorda, anda, segue pelo corredor, vai à cozinha.
Sobe a escada, vai no pavimento de cima. Ouço seus miados. Deita-se na lajota fria.
Não está nem aí... Beleza. Lambe-se. E a vida corre, o tempo não espera.
Envelheço, ele também. Tenho esse amigo. Muita gente é apegada a cães, pássaros, coelhos, peixinhos – até cobras (isso é exceção, tô fora). Têm esses animais como bichos de estimação. Cada um na sua. Ah! Bichano molengo, meu amigo.
À noite ele sai, não sei aonde vai. Certamente sobe aos telhados, vai “caçar” uma gata, uma gatinha, jovem, bonita, “bombada”, vitaminada.
Vai namorar, é direito dele. Vida boa a dele. Claro que é. Não tem do que reclamar.