A CASA DO PRÍNCIPE. "AMIGO DE SI MESMO".

Na psicologia é conhecido um teste corriqueiro para crianças difíceis. Colocado em suas frentes histórias onde constam personagens boas, fadas e príncipes, e más como bruxas e bruxos, crianças difíceis pedidas para se identificarem com alguns dos personagens, rapidamente se identificam com as bruxas ou vilões.

É assim também na vida adulta, não se consegue ver, sendo a encarnação de um adulto difícil e problemático, por não gostar de si mesmo, “não ser seu amigo”.

E por que isso acontece?

É a veia do conflito interior correndo corporalmente por aglutinar fatores existenciais que a mente projeta, com o nome do mal ainda que em personagem que figure o bem.

Martha Medeiros, com larga repercussão em suas crônicas dá o enfoque dessa realidade existencial. Nada que já não se saiba, mas dito de maneira bastante didática.Extraio partes em seguida.

“Amigo de si mesmo. ... reflete sobre a necessidade de conquistar o reconhecimento alheio para que possamos desenvolver nossa autoestima. Mas como sermos percebidos generosamente pelo olhar dos outros? ..... filósofo Sêneca: “Perguntas-me qual foi meu maior progresso? Comecei a ser amigo de mim mesmo”.

Para ser amigo de si mesmo é preciso estar atento, ser humilde. Jamais seremos amigos de nós mesmos se continuarmos a interpretar o papel de Hércules ou de qualquer super-herói invencível. Encare-se no espelho e pergunte: quem eu penso que sou? E chore, porque você é fraco, erra, se engana, explode, faz bobagem. E aí enxugue as lágrimas e perdoe-se, que é o que bons amigos fazem: perdoam.

Pare de pensar. É o melhor conselho que um amigo pode dar a outro: pare de fazer fantasias, sentir-se perseguido, neurotizar relações, comprar briga por besteira, maximizar pequenas chatices, estender discussões, buscar no passado as justificativas para ser do jeito que é, fazendo a linha “sou rebelde porque o mundo quis assim”. Sem essa. O mundo nem estava prestando atenção em você, acorde. Salve-se dos seus traumas de infância...... sem amizade por si próprio, nunca haverá progresso possível, como bem escreveu Sêneca cerca de 2.000 anos atrás. Permanecerá enredado em suas próprias angústias e sendo nada menos que seu pior inimigo." Martha Medeiros

São fatores pessoais que saltam aos olhos de qualquer um, falados com simplicidade e sem ritualística verbal, um verdadeiro repositório de autoajuda, tão festejado atualmente.

Quem sou eu afinal? Reside nessa interrogação o ser ou não ser amigo de si mesmo.

Sou o que não sou e quis ser (Seria isso? É isso.), filho da pretensão que gerou a paternidade do egoísmo. Com esse perfil ególatra o mundo não me conheceu como pretendi ser e nem como sou. Penso que estou inserido no contexto social plenamente, mas não estou. Como sou seria muito (realidade desconhecida), mas me fiz um nada por querer ser o que não era nem poderia ser. Paguei por não ser como sou e paguei mais e muito pela soberba que me isolou de mim e do mundo. Entendo agora porque não fui compreendido ainda que sendo um ser. Fui um ser de mentira, um ser que não foi, virei meu rosto para minha identidade, esqueci que sendo o que era já era muito, era filho de Deus, descendente de David e Cristo. Não achei minha identidade a tempo de ser pessoa integral. Não fui útil nem a mim nem à sociedade.

Esse é o espelho da vaidade que recusa a identidade e morre nas garras da depressão, da irrealidade que desenha a pretensão e faz moldura na frustração do quadro que pinta a estrada da vida, cinzenta e ruinosa. Mas é sempre tempo de rever, recuperar, entender, abrir o coração.

É preciso entender que nossos limites são traçados sem retornos, nascemos para sermos o que somos, entre lutas e conquistas o que somos seremos desde que despojados de vaidade para sermos ao menos o que viremos a ser com humildade e singeleza.

Como diz a cronista, temos de ser amigos de nós mesmos para sermos pessoas, sempre há tempo para sermos o que somos.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 03/07/2020
Reeditado em 03/07/2020
Código do texto: T6994820
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