O BOM DE SER CRIANÇA - II
O BOM DE SER CRIANÇA - II.
Manias de criança
Autor: Moyses Laredo.
Duas pessoinhas, hoje mães e uma delas já avó, quando crianças disputavam de tudo, eu, como um dos irmãos mais velhos, cuja diferença de idade é de 13 e 14 anos delas, quando estava com 18 anos elas tinham 4 e 5 anos respectivamente. Sempre recorriam a mim, para mediar suas desavenças. Uma delas, de natureza pacata, e a outra, extrovertida. A coisa pegava sempre que havia uma disputa, a mais extrovertida, sempre se sobrepunha nas escolhas, deixava a outra escolher primeiro, depois que isso acontecia, se pendia para a mesma escolha, aí, estava formada a cizânia, acabava que ambas queriam a mesma coisa. Por sua natureza, a mais pacata cedia para não haver brigas, de modo que, a extrovertida sempre ganhava no grito.
Nas brigas, era eu que interferia para apaziguar, um dos irmãos quem tinha mais atenção com elas. A mais extrovertida, inovou, começou a aplicar dentadas na irmã, que deixavam marcas dos dentes em seu braço. Uma vez, ao chegar em casa, a mais pacata, correu para me mostrar as novas marcas de dentadas que a outra acabara de lhe fazer no braço. Eu já a tinha advertido que não mordesse mais sua irmã, se não, eu faria uma mágica que ela não iria gostar. Nesse momento, peguei a irmã mordida pelo braço e a levei para a cozinha, ainda chorosa de dor, lavei as marcas dos dentes da outra com água limpa, esfreguei limão (a dentada não feriu, apenas deixou marcas) depois, derramei um monte de açúcar em cima, fiz aquele montinho, cortei um tomate em rodelas, coloquei por cima do açúcar e amarrei com um paninho, era tudo que tinha à mão. Em seguida, comecei a dizer umas palavras mágicas bem baixinho, deixava escapar de propósito, as palavras “cair os dentes” mais alto. O desespero da outra, foi grande, quando a mamãe me perguntou que era aquilo, respondi-lhe que isso era uma mágica que faria os dentes da que mordeu, cair todos. A mamãe que já convivia com essas brigas há muito tempo, deu mais corda, dizendo. – “É isso mesmo, assim ela não vai morder mais ninguém”. A irmã que mordeu, diante da reação da mamãe, começou a chorar com as mãos na boca, a pedir para que eu não fizesse seus dentes caírem, e que nunca mais morderia sua irmã. – “Agora é tarde, você já me prometeu outras vezes e não cumpriu, espere que de manhã seus dentes vão estar todos juntinhos na sua cama, vão cair durante a noite”. Pra quê!... a coitada começou a chorar alto de desespero, pediu, pra mamãe, pro papai, pra mim, de que não fizesse isso, até que eu resolvi lhe dizer, - “Se você pedir desculpas para sua irmã e prometer pra ela que nunca mais vai mordê-la, eu vou fazer um antídoto para seus dentes não caírem. Tudo bem, assim foi feito, ela fez tudo certinho, abraçou-a e pediu para irmã chorando, a irmã, que tinha a natureza calma e era muito boazinha, perdoou-a e me pediu também, já chorando, fazendo coro com a que mordeu, para que eu fizesse logo o antídoto. Mandei-a buscar uma vela, e passei nos seus dentes dela, engrossando-os, disse-lhe que deveria ficar assim por meia hora de relógio. A coitadinha ficou babando a casa toda, sempre me perguntando se já era hora de tirar aquilo da boca, mas teve que cumprir todo o horário do castigo, depois disso, nunca mais mordeu a irmã, aprendeu sem apanhar.
Um dia, o papai comprou uma cama beliche, era tudo que as duas queriam, achavam lindo aquilo, além do que, ganhavam um espaço muito bom no quarto, que já não era tão grande. O papai montou o beliche, sob os olhares atentos e curiosos das duas, porém, antes que tudo estivesse pronto, a mais pacata, me procurou meio chorosa, dizendo que precisava conversar comigo, me puxou pela camisa, estava com pressa, e me arrastou para outro ambiente, lá cochichando no meu ouvido contou o seu drama, começou dizendo: - “Mano, deixa eu te contar uma coisa,...eu tenho muito medo de alturas, queria ficar na cama de baixo”, respondi-lhe, - “Está bem, então pegue ela, oras”, - “Não vai dar, se eu pegar a cama de baixo, a mana com certeza vai me tomar, você sabe como ela é!” – “Puxa é mesmo, eu tinha esquecido desse detalhe”, então eu lhe disse, que iria fazer uma mágica que você irá ficar com a cama de baixo, pode ficar tranquila, ela se aclamou e saiu satisfeita, acreditava nas minhas mágicas. Quando as camas estavam prontas com colchões, colchas e travesseiros, nenhuma das duas se manifestou quanto à escolha do lugar. A mais extrovertida estava, certamente, aguardando a escolha da irmã, para então se decidir. Enquanto ambas saíram do quarto, chamei a mais pacata de lado e disse-lhe, pegue suas bonecas e suas coisinhas e se arrume na cama de cima, vá agora! Ela assustada, parou e me olhou, incrédula dizendo, - “Mais mano, eu te disse que tenho medo de alturas, de rolar lá de cima, como é que você me manda escolher essa cama?” Calma, disse-lhe, deixe comigo, eu já fiz a mágica, não se preocupe, vai dar certo, eu te ajudo a subir, fique quietinha deitada como se já fosse dormir. Assim ela fez, com medo, mas, me obedeceu, decorou tudo ao seu modo. Quando a outra irmã, entrou no quarto, só se ouviu os gritos dela, - “Pode descer daí, nem se aninhe, esse lugar é meu”. A irmã mais calma, nem acreditou no que estava ouvindo e até se demorou um pouco em obedecê-la, o que aumentou a pressão da irmã mais extrovertida, que veio ao meu encontro pedir minha interferência, no qual, eu acorri imediatamente ao quarto delas. Ao chegar lá, a mais pacata ainda estava na cama de cima (tinha medo até de descer sozinha). Eu lhe pedi delicadamente para que descesse, precisei ajudá-la, pois o seu medo de altura era tamanho, que a fazia tremer as pernas. Deu certo, as duas se acomodaram direitinho, a mais pacata na caminha de baixo, como queria. A mais extrovertida, na escolha que a irmã havia feito. Nunca mais houve brigas quanto a isso, o que valeu foi o olhar que, a mais pacata, deu para mim, que olhar lindo de agradecimento. Hoje, são inseparáveis, quando se encontram se beijam e se abraçam muito. A mais extrovertida, é bacharel em direito e mãe de dois sobrinhos lindos, um deles já é advogado e lhe deu um netinho que a avó ama. A mais pacata é médica, tem três filhos duas mulheres e um homem que já cursa os últimos anos de medicina. Quando nos encontramos em reuniões familiares, se lembram dessas paradas, ficam sorrindo e partem pra cima de mim para me abraçar.