"CUSPIDO E ESCARRADO" !

"CUSPIDO E ESCARRADO" !

Em recente controvérsia sobre um artista plástico presente em foto feita num antigo bar/dancing famoso de Belém -- não era êle, garantiu-me o próprio tempos depois -- me veio à mente a vetusta expressão que encima este escrito. Por pouco não uso tal exxpressão, embora tenha preferido fazer uma piada infame sobre a suposição de que o pai dele "andara" talvez pelo "basfond" belenense, tal a semelhança. "Cara de um, focinho do outro", diriam nossos trisavós ou tataravós. Aliás, nos tempos atuais, se é avô ou avó aos 36-38 anos e por consequencia -- que já nem leva TREMA, apesar de manter a pronúncia antiga -- quem nasceu sob os acordes de Woodstock comemorará 51 anos em treze dias provavelmente como bisavô, mas sem conhecer as expressões populares tão comuns aos seus pais.

Nossos antepassados eram bastante caricatos e a forma de se expressar muito curiosa: coisas como "dobrar a esquina", "ver o Sol nascer quadrado", "amarrar cão com linguiça" (esta, com trema !), "chover no molhado", lágrimas de crocodilo" e muitas outras mais não fariam hoje nenhum sentido. Em um momento tão "mortal", digo, trágico, poder-se-ía ser mal interpretado usando qualquer das dezenas de definições sarcásticas criadas pelos antepassados, sendo a "foi conversar com Deus" a mais piedosa delas. Há as dedicadas aos desafetos... "bateu as botas", "foi comer capim (?!) pela raiz", "vestiu o paletó de madeira", "foi pra Terra dos pés juntos" e outras tantas, todas declaradas com uma risota de alívio pelo fato funesto não ter acontecido consigo ou com um parente seu. Algumas beiram as raias da sandice, dirigidas certamente a um "Jair, o Terrível" de 1 século atrás:

-- "Esse aí não quero ver nem morto"!, frase por sinal dúbia, ambígua ou, traduzindo, "de duplo sentido"... para os papalvos, pascácios, parvos, palermas -- ou imbecis, idiotas, "istúpidos" -- que não conhecem ambos os termos. Mas, pode ficar pior:

-- "Esse aí quero ver no Inferno"! e, como o Português, pra nosso castigo, permite interpretações, subentende-se que estarão os 2 "queimando" nas caldeiras de Lúcifer, restando saber quem partirá primeiro. Quando se pedia ajuda, arriscava-se a ouvir irritante réplica despropositada:

-- "Amigo, por favor... podes me dar uma mão aqui" ?!

-- "Não serve maçã ou caqui" ?

Hoje, as gírias horrendas de "panacas" juvenís, que mal conseguem gaguejar 3 ou 4 palavras corretamente, "enterraram" para sempre expressões populares divertidas e curiosas e "chutaram o pau da barraca" do lado mais rico da Língua Pátria, reduzida a monossílabos e "expressões telégráficas" (vc, qd, hj, rs, etc) que fazem os esqueletos dos nossos tataravós "revirarem nos túmulos". "É isso aí, mano... é nóis na fita" !

"NATO" AZEVEDO (em 2/julho 2020, 16hs)