PARTE 3
O Sagrado: memórias, ermitões e santas em Minas
C. Santas
A Serra da Piedade em Minas Gerais é outro ponto que envolve o misticismo no coletivo do imaginário mineiro. Ela está localizada no atual município de Caeté a cerca de 60 km de Belo Horizonte.
Tudo começa com a lenda de que uma menina muda teria visto a “Imagem da Virgem com o Menino Jesus” no alto da referida serra e que depois desta experiência mística ela teria começado a falar.
Aproveitando-se desta condição, Antônio da Silva Bracarema, que fugia das perseguições do Marquês de Pombal, em Portugal, interiorizando-se nas terras das Minas, incentivou peregrinações ao lugar em que ocorrera a visão daquela menina. Para tanto instalou ali um claustro e uma capela.
Compondo, no teatro da religiosidade, o cenário das ermidas e seus ermitões não poderia faltar a figura da “santa”.
Percebe-se assim como a religiosidade, que chegou até nos anos de 1960 – e porque não falar até hoje – passa pela cultura que se realiza através do sagrado que inspirou ermitões e suas ermidas e santas – figuras místicas. Esta passagem se dá, ainda, pelo Portugal Católico, uma vez que estes ermitões eram portugueses, que apesar de estar inserido no contexto das Monarquias Nacionais que superaram o feudalismo, busca sua referência no Medieval – época dos mosteiros e seus monges e em que as realizações eram essencialmente masculinas já que as mulheres que se destacassem eram consideradas bruxas.
Nas Minas Modernas e em sua metrópole – Portugal – a mulher já havia socialmente adquirido maior aceitação. No governo de D. Maria I não havia mais a figura da bruxa, mas da santa. Estas mulheres que entravam em êxtases espirituais hoje seriam consideradas pela psicologia como casos de histeria.
Tôrres elucida que “o Caraça e o Colégio Macaúbas cuidaram do ensino; a Serra da Piedade, ermida construída num dos montes mais altos de Minas, seria o centro de peregrinação. E não faltaria a celebridade de uma “santa”: uma jovem recolhida ao asilo, ao sopé do monte, era dada a êxtases e passava por transes que a piedade popular considerava miraculosos e a autoridade eclesiástica mantinha a clássica prudência.
” Esta moça ficou conhecida pelo nome de Irmã Germana e foi motivo também de observação de Saint-Hilaire.
Somando-se a estas figuras de ermitão e santa houve o Padre Manuel dos Santos que fundara a Casa de Orações do Vale de Lágrimas, em Itacambira e que se tornou um misto de Covento e Colégio.
Além das figuras humanas estereotipadas como a do ermitão e a da santa outros elementos vieram juntar-se para a formação do imaginário mineiro quer seja de ordem filosófica ou artística.
Cita-se, primeiramente, a mentalidade barroca que expressava a objetividade da luz (razão) produzindo a subjetividade da sombra (emoção); a dualidade da busca dos prazeres cárneos e a salvação espiritual; a procura do ouro (riqueza) e a conformação da frustração (resignação) e a irreligião das classes cultas e a piedade do povo em geral.
Como denominador para chegar a um consenso desta realidade dual havia a missão social da igreja nas terras das Minas Gerais. Esta missão se fazia através de associações religiosas e irmandades. As associações religiosas exerciam diversas influências. Tôrres as enumeram da seguinte maneira:
O Sagrado: memórias, ermitões e santas em Minas
C. Santas
A Serra da Piedade em Minas Gerais é outro ponto que envolve o misticismo no coletivo do imaginário mineiro. Ela está localizada no atual município de Caeté a cerca de 60 km de Belo Horizonte.
Tudo começa com a lenda de que uma menina muda teria visto a “Imagem da Virgem com o Menino Jesus” no alto da referida serra e que depois desta experiência mística ela teria começado a falar.
Aproveitando-se desta condição, Antônio da Silva Bracarema, que fugia das perseguições do Marquês de Pombal, em Portugal, interiorizando-se nas terras das Minas, incentivou peregrinações ao lugar em que ocorrera a visão daquela menina. Para tanto instalou ali um claustro e uma capela.
Compondo, no teatro da religiosidade, o cenário das ermidas e seus ermitões não poderia faltar a figura da “santa”.
Percebe-se assim como a religiosidade, que chegou até nos anos de 1960 – e porque não falar até hoje – passa pela cultura que se realiza através do sagrado que inspirou ermitões e suas ermidas e santas – figuras místicas. Esta passagem se dá, ainda, pelo Portugal Católico, uma vez que estes ermitões eram portugueses, que apesar de estar inserido no contexto das Monarquias Nacionais que superaram o feudalismo, busca sua referência no Medieval – época dos mosteiros e seus monges e em que as realizações eram essencialmente masculinas já que as mulheres que se destacassem eram consideradas bruxas.
Nas Minas Modernas e em sua metrópole – Portugal – a mulher já havia socialmente adquirido maior aceitação. No governo de D. Maria I não havia mais a figura da bruxa, mas da santa. Estas mulheres que entravam em êxtases espirituais hoje seriam consideradas pela psicologia como casos de histeria.
Tôrres elucida que “o Caraça e o Colégio Macaúbas cuidaram do ensino; a Serra da Piedade, ermida construída num dos montes mais altos de Minas, seria o centro de peregrinação. E não faltaria a celebridade de uma “santa”: uma jovem recolhida ao asilo, ao sopé do monte, era dada a êxtases e passava por transes que a piedade popular considerava miraculosos e a autoridade eclesiástica mantinha a clássica prudência.
” Esta moça ficou conhecida pelo nome de Irmã Germana e foi motivo também de observação de Saint-Hilaire.
Somando-se a estas figuras de ermitão e santa houve o Padre Manuel dos Santos que fundara a Casa de Orações do Vale de Lágrimas, em Itacambira e que se tornou um misto de Covento e Colégio.
Além das figuras humanas estereotipadas como a do ermitão e a da santa outros elementos vieram juntar-se para a formação do imaginário mineiro quer seja de ordem filosófica ou artística.
Cita-se, primeiramente, a mentalidade barroca que expressava a objetividade da luz (razão) produzindo a subjetividade da sombra (emoção); a dualidade da busca dos prazeres cárneos e a salvação espiritual; a procura do ouro (riqueza) e a conformação da frustração (resignação) e a irreligião das classes cultas e a piedade do povo em geral.
Como denominador para chegar a um consenso desta realidade dual havia a missão social da igreja nas terras das Minas Gerais. Esta missão se fazia através de associações religiosas e irmandades. As associações religiosas exerciam diversas influências. Tôrres as enumeram da seguinte maneira:
Influência especificamente religiosa: Minas Gerais é conhecida até os dias de hoje pelas suas igrejas construídas pelas irmandades religiosas e pelo seu atavismo marcadamente católico.
Influência social e geográfica: havia irmandades religiosas segundo as etnias e que cumpriam seu papel, segundo a mentalidade da época, evitando caos e dando significados sociais.
Influência assistencialista: estas irmandades ou confrarias davam proteção e assistência. Impunham o descanso semanal, dias santos e asseguravam um dia de trabalho livre para o escravo. Também colaboravam ativamente na libertação individual da escravidão.
Influência cultural no campo do ensino: para entendermos isto vimos, além da figura dos ermitões que os fundaram, a importância da origem dos educandários que se tornariam o Caraça e o Macaúbas.
Influência artística: coube às irmandades construir o público para todo o movimento do barroco mineiro.
Desta maneira, quer seja pelas figuras excêntricas dos ermitões, históricas das santas ou dos peregrinos, assistencialistas das irmandades, culturais ou artísticas o imaginário do sagrado se alicerçou servindo de base para o atavismo e a memória coletiva destas terras de Minas que se fizeram através de seu ouro, sua arte e sua religiosidade.
Para Saber Mais:
1. BLOCH, Marc. Introdução à História. Publicação Europa – América, LTDA, Portugal, 1997.
2. GINZBURG, Carlo. O Fio e os Rastros: verdadeiro, falso e fictício. S.P. Companhia das Letras, 2007
3. . O Queijo e os Vermes: o cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela Inquisição. S.P. Companhia das Letras. 2006.
4. . Mitos, Emblemas, Sinais: morfologia e história S.P. Companhia das Letras, 1998.
5. Saint-Hilaire, A. – Viagem pelas Províncias do Rio de Janeiro e Minas, S.P., 1938.
6. SOUZA, J. V. a. e HENRIQUES, M.S. (Org.). Vale do Jequitinhonha, Belo Horizonte. UFMG/PROEX. 2010.
7. TORRES, J. C. de Oliveira. História de Minas Gerais. 3º Vol. Difusão Pan-americana do Livro. B.H.
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 27/03/2015.
Direitos do texto e foto
reservados e protegidos segundo
Lei do Direito Autoral nº 9.610,
de 19 de Fevereiro de 1998.
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