Nutrindo o desespero

Só um som faz voltar o meu bem

E agora ele se encontra preso em algum trem. Ou talvez esteja trancado e chorando por trás de outra janela, pobre refém de suas pressas. Só ele sabe a luta que carrega. O que se perde e tudo o que se tem. Cabe ao meu bem conhecer o escuro e tudo o que o fogo cobriu sem nenhum barulho e fez desaparecer ao relento do além.

Eu vejo que o céu ainda está aberto e que de longe o véu me mantém por perto. Não culpo as estrelas e nem os minérios. Não digo o que sou e nem o que carrego. Mas adiantando o assunto... Eu estou a passos de me perder no meu imenso mundo.

Mas mesmo assim é uma droga, nada pode ser mais real do que o dispertar de sonho animal. Algo sem nenhum ligação com o cosmo, mas perfeitamente tridimensional. Posso ter nascido no planeta Terra, mas o meu mundo está para além de tudo o que me espera. E o meu bem... Meu bem está a distância de qualquer insegurança ou sentimentos aquém.

O que devo fazer agora e lhe contar uma antiga história. Vai suavizar os mistérios e por pouco vai lhe pregar os pés com um martelo. Sim, voltaremos a uma dor que sangra e que dói por completo. E longe de um desespero, mutável ao som de um cordeiro vai ser a coisa que mais o fascina que o destruirá por inteiro.

Voltando ao meu bem que agora em paz mantém um sorriso e um grande desdém. Tudo o que sobrou será deixado ao que faltou e ao que de longe o mar levou. Não mais feridas abertas e não mais qualquer relação mantenho com os espelhos que refletem velhos erros. A dor que me feriu os joelhos e ao vento cicatrizou com todo o amor, suor e com o que restou da lembrança que ganhei, da saudade que afastei e da angústia que passei.

E agora eu me pego observando meu próprio fim. Recebo sinais dos planetas e tão cedo eles já disseram que me aceitam. Só devo organizar minhas coisas e estar pronto para a despida em cima da moita. Sou tão pobre por achar que carrego a certeza de todas os fatos e tão rico por saber que emano energias que estão além das que eu faço. Bom, no final vai ser só isso: uma cadeira irá continuar vazia e o chão será o agora de qualquer janela que passe ar e reflita.

iaGovinda
Enviado por iaGovinda em 01/07/2020
Reeditado em 04/07/2020
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