A dona da história
O último parágrafo não é resto de feira, sobra de massa da padaria, túmulo de ossos secos com anjo de pedra ou o adeus no porto de Santos. Não lembra a estação de trem, abandonada, Jaboticaba; nem se compara com o amor desfeito na lua cheia. Também não é a tristeza do palhaço, que rir no palco sem ter alegria. Nada nele, lembra a demissão de um pai de família, que luta para criar sua filha, sem cláusulas definidas. Ele não representa o inverno de Dante ou o inferno congelante, em noites de solidão. Mas, pode ser um pedaço de pão, no estômago de quem tem fome; o sobrenome na certidão de nascimento, cujo pai é ignorado; o cobertor de lã doado para os idosos asilados; a distribuição de renda e geração de empregos num país devastado; um olhar além do horizonte, onde a esperança se perdeu; uma página em branco, com espaçamento duplo e, uma oportunidade de reinterpretar a vida. Também, pode afrouxar os laços e fugir das horas. As horas roubadas do tempo, que por um breve momento, foi o tormento de um náufrago sem direção. O último parágrafo é a estrela do norte que guia a magia, e sem varinha de condão pode contar qualquer história.