CLAUSURA DOS

Ela estava em casa, mal saíra no portão, noventa e tantos dias enclausurada, prisioneira por decreto. Ela não sabia mas seus vizinhos já morreram, não sobrou ninguém. Mal sabia ela que os sons estridentes na rua vazia não eram os bombeiros mas sim, as ambulâncias recolhendo infectados candidatos à morte.

Pelas notícias da TV soube que milhões de seres já se foram, em prantos e de olhos paralisados, louca para botar os pés na rua, respirar um ar. Ar? Que ar nada; Covid-19!!! Isso é o novo ar, um novo vírus no ar.

Seu neto, garoto rebelde disse que ia ver uns amigos pois, cansou se de ficar aprisionado, sumiu por três dias e ela? Sozinha sem ninguém para conversar. Já velha e cansada da vida chorava ás pitangas pelos canto pedindo a Deus para ter lhe misericórdia pois, seu neto a abandonou não bastava ter lhe tirado o amor de sua existência, seu fruto filho de vosso ventre, agora o neto.

Não..., o neto não sumiu, adolescente rebelde voltou com a cara lavada e com fome, pegou uma panela de mexido, sentou se perto da avó olhando para a TV e dormiram os dois, dormiram para não mais acordar.