A MARCA DA GOSOSA
Quando o Helvécio era moço viçoso, bonitão, lá pelos seus 20 anos, foi numa domingueira. Domingueira era um tipo de baile, realizado no domingo a tarde, naqueles compridos salões de madeira, com a sanfona e a viola deixando todo mundo arretado.
As moças ficavam todas sentadas em bancos, ao redor do salão, e os moços então as tiravam para dançar, sob os olhos cuidadosos das mães que jamais deixavam as filhas irem sozinhas nas domingueiras.
E vezes em quando pintava a “marca da gasosa”. Marca era uma música. “Dançar uma marca”, ou dançar um moda, uma música. Na marca da gasosa, o moço tinha que pagar uma gasosa para a moça com quem dançasse.
Claro que na marca da gasosa, poucos eram os moços que tiravam uma moça para dançar. Só os endinheirados. E o Helvécio era um deles. Era moço novo, mas já trabalhava numa tipografia. Moço bom prá casar, diziam na vila.
Quando surgia a Marca da Gasosa, o Helvécio podia escolher a moça mais bonita, a mais formosa, pois, ele tinha grana para pagar a gasosa.
Desde aquela época ele já era metido. Sempre de terno de linho, chapéu de feltro, camisa de colarinho engomada no capricho, tudo “nos trinck”. Todas as velhas o queriam como genro. Moço trabalhador, direito, até letrado já era. E as moças o cobiçavam. Para dançar, para beber gasosa e para casar. Era, sem dúvida, o mais cobiçado candidato a marido da freguesia.
Um domingo, tarde chuvosa, o futebol rolando no campo de várzea ao lado e a domingueira correndo solta. O Helvécio todo alinhado, arrastando o pé no assoalho do salão.
O Sanfoneiro então anunciou, de novo, mais uma marca da gasosa. Helvécio correu os olhos pelas laterais do salão, buscando a moça mais formosa. E seus olhos pararam, como que hipnotizado, na moça morena, cabelos escorridos ombro abaixo, olhos grandes, negros e lábios naturalmente vermelhos, carnudos, formando uma boca linda, convidativa a longos beijos cinematográficos.
Assim que percebeu o olhar hipnotizado do Helvécio, a moça enrubesceu e baixos timidamente os olhos, numa demonstração de pureza, tão comum nas donzelas de fato e juramentadas. E foi se encaminhando à moça. Ela se encolheu no banco e mãe ao lado já se armou para proteger a cria bem criada.
Helvécio chegou e a convidou para dançar a marca. Ela mal levantou os olhos e balançou a cabeça negativamente. Vale esclarecer que, na época, uma moça negar uma dança era mais que uma ofensa. A moça não podia negar uma dança, sob risco de ser expulsa do salão.
Então a mãe zelosa saiu em sua defesa. Ela não sabe dançar. E ainda é de menor, seu moço.
Então Helvécio insistiu. Sou respeitoso, pode confiar. E ensino ela, pode deixar. A moça olhou para a mãe, olhou para Helvécio, um moço bem apessoada, bem vestido no fino terno de linho, o chapéu Panamá reluzindo na cabeça e disse. Então tá...
E foram então dançar. E dançaram a marca da gasosa, e mais uma, mais uma e mais outra. Depois ele a cortejou em sua casa, noivaram, casaram, tiveram 11 filhos e dançam a música da vida, grudadinhos, a 59 anos.
Quando o Helvécio era moço viçoso, bonitão, lá pelos seus 20 anos, foi numa domingueira. Domingueira era um tipo de baile, realizado no domingo a tarde, naqueles compridos salões de madeira, com a sanfona e a viola deixando todo mundo arretado.
As moças ficavam todas sentadas em bancos, ao redor do salão, e os moços então as tiravam para dançar, sob os olhos cuidadosos das mães que jamais deixavam as filhas irem sozinhas nas domingueiras.
E vezes em quando pintava a “marca da gasosa”. Marca era uma música. “Dançar uma marca”, ou dançar um moda, uma música. Na marca da gasosa, o moço tinha que pagar uma gasosa para a moça com quem dançasse.
Claro que na marca da gasosa, poucos eram os moços que tiravam uma moça para dançar. Só os endinheirados. E o Helvécio era um deles. Era moço novo, mas já trabalhava numa tipografia. Moço bom prá casar, diziam na vila.
Quando surgia a Marca da Gasosa, o Helvécio podia escolher a moça mais bonita, a mais formosa, pois, ele tinha grana para pagar a gasosa.
Desde aquela época ele já era metido. Sempre de terno de linho, chapéu de feltro, camisa de colarinho engomada no capricho, tudo “nos trinck”. Todas as velhas o queriam como genro. Moço trabalhador, direito, até letrado já era. E as moças o cobiçavam. Para dançar, para beber gasosa e para casar. Era, sem dúvida, o mais cobiçado candidato a marido da freguesia.
Um domingo, tarde chuvosa, o futebol rolando no campo de várzea ao lado e a domingueira correndo solta. O Helvécio todo alinhado, arrastando o pé no assoalho do salão.
O Sanfoneiro então anunciou, de novo, mais uma marca da gasosa. Helvécio correu os olhos pelas laterais do salão, buscando a moça mais formosa. E seus olhos pararam, como que hipnotizado, na moça morena, cabelos escorridos ombro abaixo, olhos grandes, negros e lábios naturalmente vermelhos, carnudos, formando uma boca linda, convidativa a longos beijos cinematográficos.
Assim que percebeu o olhar hipnotizado do Helvécio, a moça enrubesceu e baixos timidamente os olhos, numa demonstração de pureza, tão comum nas donzelas de fato e juramentadas. E foi se encaminhando à moça. Ela se encolheu no banco e mãe ao lado já se armou para proteger a cria bem criada.
Helvécio chegou e a convidou para dançar a marca. Ela mal levantou os olhos e balançou a cabeça negativamente. Vale esclarecer que, na época, uma moça negar uma dança era mais que uma ofensa. A moça não podia negar uma dança, sob risco de ser expulsa do salão.
Então a mãe zelosa saiu em sua defesa. Ela não sabe dançar. E ainda é de menor, seu moço.
Então Helvécio insistiu. Sou respeitoso, pode confiar. E ensino ela, pode deixar. A moça olhou para a mãe, olhou para Helvécio, um moço bem apessoada, bem vestido no fino terno de linho, o chapéu Panamá reluzindo na cabeça e disse. Então tá...
E foram então dançar. E dançaram a marca da gasosa, e mais uma, mais uma e mais outra. Depois ele a cortejou em sua casa, noivaram, casaram, tiveram 11 filhos e dançam a música da vida, grudadinhos, a 59 anos.