Ao amor dela sempre

O horizonte dela era a arte de ensinar. Era professora de português e era extraordinária no ensinar. E com vinte anos completos se formara na faculdade e começava a dar aulas. E fez especialização em arte de literatura e fez mais uma faculdade, a de história. Com vinte e cinco terminara sua segunda faculdade e fora feliz. E desejava fazer um intercâmbio no Canadá e aprender uma segunda e terceira línguas, o inglês e o francês. E foi morar com um tio canadense em Montreal e começou a aprender fazendo faxinas nas casas de clientes na cidade. E ficou lá três anos e mais um conseguiria a cidadania canadense e foi-se. Com trinta e sete anos ela estava em sua terceira faculdade, a de professora de inglês e formara-se lá no país canadense. E decidira se casar com um rapaz que conhecera na faculdade e se uniram. Ainda não tiveram filhos, mas queriam muito ter. Seria muita alegria para os dois e conseguiram ter dois, menino e menina. Ela queria ser escritora infantil, mas o mercado era muito fechado para isso, começando duas páginas por dia em um mês teria um livro completo. E publicou. Vendera sete mil cópias em duas semanas e foi best-seller infanto-juvenil no país em que residia. E depois vieram mais livros, dois, três, quatro, dezenas, publicou de coração aberto ao diálogo e críticas positivas ou construtivas. E com quarenta e dois anos ganhou o prêmio Jabuti aqui no Brasil e o Nobel de literatura no mundo. E foram-se chuvas de elogios pelo bom trabalho. E ela sentia-se muito feliz e respeitada pelo meio literária e queria mais: chegar à marca de cinquenta livros publicados. E colocou de graça no meio on-line livros para quem não podia pagar e quem quisesse contribuir somente precisaria pagar o quanto quisesse dentro da medida. E teve um canal no youtube e de lá vinha sua verdadeira renda. E precisava de atores e atrizes para representar seus livros. O primeiro livro seria: perdido de perto olhado de certo. E assim por diante. Ela virou roteirista de filmes infanto-juvenis e deu certo. E com esmera vontade ela venceu sendo honesta o tempo inteiro sem passar a perna em ninguém. Ela completou sessenta e nove atuais. Com sincera certeza seu amor pelas crianças fez o diferencial e pagava cada centavo de suas contas todo o mês. E com ele, seu marido, tudo fluía como correntezas de amor e simples como uma flor. E decerto longas noites de sono perdidas deram esse sucesso nacional e internacional. Ele e ela ficaram casados até noventa e nove dela, pois partira com essa idade. E ele com a morte dela distribuíram sua herança para duas associações, uma de menores abandonados e outras de dois orfanatos que há muitos anos sempre ajudou. E choraram as crianças no caixão dela. Tinha ela por mãe e amiga de todos eles e fizeram um epitáfio no túmulo: esta linda mulher, mãe, guerreira e batalhadora merece mais do que uma homenagem e sim todo o nosso amor. E assim fecharam o caixão e somente ele ficou até o fim. Mulheres como ela são tão raras que passam despercebidas.

Gumer Navarro
Enviado por Gumer Navarro em 28/06/2020
Código do texto: T6990391
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