SAPO E LAGARTA .
Hoje , ao despertar de uma noite longa, seu primeiro ato após o café, foi pegar a mangueira e conecta-la ao fluxo d'água da bica. A horta estava seca, e entre as gretas da cerca de bambu, deslumbrou acenos das verduras querendo saciar a sede, embora o sereno da noite ter jorrado seu frescor, as folhas ainda estavam avidas.
Ela calçou seu chinelo velho, sujigou seu cabelo sob o boné, arrastou a mangueira, e pisou o solo seco da horta, teu olhar percorreu toda extensão dos canteiros, tudo a ela despertavam desejos, as couves cujas folhas aviam perdido sinais de maciés, as serralhas e os espinafres timidamente intactos,tudo tão sofrido pela longa estiagem.
Ela então girou a torneira e começou a direcionar finos jatos rumos as folhas sedentas. Que maravilha ver o lençol d'água sobre infinitos canteiros, enquanto deleitava com o barulho das águas, um vento leve sacudiam as folhas , como mãos em agradecimento.
De repente o inesperado, uma lagarta destacou-se na folha da couve, ela mirou o jato, mas algo lhe disse, não dispare o gatilho, lagartas viram borboletas e essas encantam os prados. Recolheu então seu ímpeto e mirou novas direções , foi então explorando cantos e moitas de hortaliças. um sapo desentocou-se do nada, e em pulos curtos e precisos direcionou ao canteiro cuja lagarta se expunha vividamente feliz.
Que perigo, sapos comem lagartas, então, direcionou o jato rumo ao sapo, de inicio o sapo nem se mexeu. Ela então girou mais a torneira e intensificou o jato, o sapo não resistiu e com largos pulos sumiu entre vastas ramagens.
A mulher retirou-se com a alma lavada, enrolou a mangueira , e saiu para outras empreitadas, o dia no campo é um oásis para a vida, outra noite se descortinou-se, e com ela outros sonhos , possíveis e impossíveis . Quando o dia nasceu, a mulher lembrou-se da lagarta, então foi a horta, e no talo da couve , apenas cascas, vestígios que nova vida avia voado...