Ontem no trem- Compromissos.
Manhã corrida... Trabalhadora esperando outra trabalhadora para ir trabalhar...
Não! Não posso sair mais cedo pois meu horário é cronometrado...
Chego à estação do meu embarque e sou bombardeada com três mulheres pedintes.
A primeira mulher, jovem com filho no colo, me chamando insistentemente e eu com muita pressa... Uma agonia só. A segunda senhora parecia alcoolizada me cercando pedindo trocadinhos e a terceira na roleta de acesso falou algo que não prestei atenção, me impedindo a entrada...
Pronto! Jesus, Maria e José! Começou bater um de sespero...
Exercício mental... Não vou olhar... Só por hoje vou pensar em mim... Estou atrasada... Tenho meus compromissos.Não posso resolver o problema de todo mundo...
Cadê a família deste povo? Cadê o Estado? Só por hoje não sentirei que o problema é nosso.
Tenho os meus problemas... Não posso me angustiar e me deprimir senão não consigo cuidar de mim e dos meus... Meu instinto de sobrevivência falou mais alto. Prossegui.
O trem demorou exatamente 40 minutos.
Então desço do trem, empino o nariz e digo pra mim mesma, vamos lá, não olhe para o lado, pense em você e nos seus compromissos...
Na saída da estação, já descendo a escada, escuto: Dona a senhora sabe onde é a rua tal?
Pensei... Informação eu posso dá rapidinho...
Sim senhora é só atravessar a passarela respondi solicitamente e virei para continuar meu caminho...
Moça sabe o que é...? É que tenho medo de altura...
Ai minha Santa Periquita! Estou atrasada... Não vou... Não vou ajudar... Não... Ajudei! Dei o meu melhor sorriso, peguei no braço da dona que tremia igual vara verde, atravessei toda a passarela com ela, desviando do meu caminho, apontando para o alto do morro e puxando assunto para tentar acalmar a aflita senhora.
Com gestos de agradecimentos a senhora partiu.
E eu segui. Muito atrasada para meus compromissos, mas, acredite vocês, muito mais leve, mais humana, mais feliz...
Ao entrar toda esbaforida na escola encontro Zefinha, uma senhora que trabalhou lá como servente e sofreu na pele as atrocidades deste (DES) governo quando foi demitida sem qualquer direito.
Abraçou-me e contou seus problemas. Um milhão de vezes maiores que os meus. Inclusive percorreu uma longa distância de bicicleta, uma senhora de 60 anos, pois não tinha dinheiro de passagem.
E mais... Estava Abalada psicologicamente por ter visto cenas de violências terríveis no morro onde colocava uma barraca de doces para sobreviver.
Parei. Fixei o olhar naquela mulher sofrida que só queria desabafar e ser ouvida por alguém. Naquele momento só podia dá um pouquinho de atenção... Um pouquinho... Mas que tenho certeza que significou muito para Zefinha.
E os meus compromissos? Danem-se os compromissos. Eu prefiro aprender a exercer o meu comprometimento com pessoas e me sentir responsável em amenizar suas dores das mais simples maneiras, um gesto, uma palavra, um sorriso ou uma ação.
Queira Deus que na dividida eu prefira sempre GENTE. Mesmo assim, agindo desta forma, não faço mais que minha obrigação!
O Cristo não pediu muita coisa, não exigiu grandes sacrifícios. Ele só pediu que amássemos uns aos outros!
Naquele momento fiquei feliz por ter mudado de ideia. Como disse Juscelino Kubitschek "Costumo voltar atrás, sim. Não tenho compromisso com o erro."
E assim foi meu dia... Parecia Deus me testando, me ensinando...