Lembranças da Infância
Lembranças da Infância.
Há momentos em nossas vidas, que surge um lampejo em nossas mentes e rebuscamos memórias tão antigas que há muito tempo não lembrávamos. Hoje quando me dirigia à minha casa para o almoço, fui surpreendida pela visão que tive de uma senhora, alta, morena de cabelos grisalhos, se encontrava em frente a sua residência e me trouxe a lembrança de uma vizinha que morava em minha cidade natal, que fez parte de minha infância e dos meus contemporâneos. Era aquela pessoa fantástica, todos a admirávamos por seu jeito de ser, porém tinha um grande coração e amabilidade com todas as crianças que dela se aproximava. Mulher humilde, mas era uma “contadora de estórias” fabulosa que nos fazia viajar a lugares jamais imaginados; tinha um poder incrível de embevecer a todos com seu vocabulário simples e ao mesmo tempo rico e enigmático. Quantas fantasias criadas! Quantos sonhos idealizados!
Toda a noite reunia em frente à sua casa para suas estórias escutar e parecia uma festa, porque naquela época não havia tantas opções de diversão como hoje – variados programas de televisão, livros, shoppings, jogos, internet, etc. , que nossos irmãos mais jovens ou mesmo nossos filhos desfrutam, são tantas opções que causam até cansaço. Naquele tempo não, a escassez era grande e nos contentávamos com muito pouco. Éramos felizes, sorríamos a valer, escutávamos atenciosamente cada palavra, que soavam fortemente, cheias de fantasias, principalmente quando era noite de lua cheia, quando ela contava alguma estória mais escabrosa, escolhida de propósito; sentíamos medo, e quando nos recolhíamos, às vezes, as cenas contadas e imaginadas, voltavam a nossa mente trazendo a insônia e fazendo com que assumíssemos para o irmão que dormia ao lado que não conseguiríamos dormir, e ficávamos juntinhos até o sono apagar a nossa mente e adormecermos completamente.
A cada despedida, ela sempre deixava no ar um “trailer” da próxima estória que contaria no dia seguinte, e ficávamos ansiosos para que a noite seguinte chegasse e pudéssemos ter o prazer de escutá-la completamente.
Que saudade minha querida e magnífica “Contadora de Estórias”, que deve estar em alguma outra galáxia, encantando e embalando sonhos de outras crianças!!