UMA VIAGEM A TERRINHA

Céu de brigadeiro, impossível dia melhor para uma viagem de avião, estou em um Airbus A330 neo da TAP, em um assento ao lado da janela, com destino a terrinha, Portugal, meu velho avó feito de castelos, lendas e reis. Como filho de português, sempre desejei realizar esta viagem.

O céu límpido propicia uma visão ampla de um belo mar, beleza imensurável do atlântico. Fico a refletir, é muita água, tão grande é o conhecimento dos portugueses a lidar com o mar, com as águas, certamente os descobrimentos de Portugal, dentre os quais o Brasil, foi tamanha façanha semelhante à viagem a lua. Como diz a famosa frase, muitas vezes atribuída a Fernando Pessoa ou a Camões, ainda tem quem defenda que foi dita originalmente em Latim, por Pompeu, general romano, aos marinheiros, amedrontados, que recusavam viajar durante a época expansionista: “navegar é preciso ... viver não é preciso.” Sem sombra de dúvida, os portugueses entendem de mar. Certa vez perguntei a meu pai qual a razão dos portugueses terem tanto conhecimento sobre com mar. Ele deu a seguinte resposta: “Apreenderam muito a navegar com os fenícios." E, ainda disse: “quando você tem o “tigre” pelas costas, sairá pela frente.” Explicou: “Portugal e Espanha permaneceram por muito tempo em guerra, a Espanha era o 'Tigre', único país a fazer fronteira com Portugal. Sendo assim, o sensato, naquela época de guerra, era sair para o mar que está à frente. Assim, os portugueses tinham mais um motivo para apreender a lidar com as águas.” Gostei da resposta. É real, a vida nos ensina que muitas vezes às circunstâncias nos faz fazer, aprender, aquilo que nunca havíamos imaginado.

Sobre os portugueses ainda, me fazem lembrar os livros, que nos contam que Napoleão nos seus últimos anos de vida, passados em exílio na ilha de Santa Helena (após a derrota na batalha de Waterloo, frente ao Duque de Wellington), Napoleão escreveu as suas memórias. Nunca esqueceu D. João VI, Rei de Portugal: “Foi o único que me enganou, quando... fugiu para o Brasil.” Napoleão Bonaparte fizera o um ultimato a Portugal: ou D. João VI apoiava a Inglaterra contra os interesses franceses, ou então ajudava a França, declarando-se inimigo dos ingleses. Assim agindo, D. João VI salvou Portugal, eis que Napoleão queria era o rei e não os pebleus.

Retornando a minha viagem, me concentrando ao vôo, lembrei de outra frase que diz: “Voar não é perigoso, perigoso é cair”. Nesta hora, confesso, não teve jeito, a lembrança da frase me deixou.... inseguro naquela altura do vôo, ainda bem que passou logo. Não demorou, estamos chegando, já vislumbro a Ponte Vasco da Gama, o Rio Tejo, logo a seguir a Ponte 25 de Abril, Belém, o Estádio da Luz (Benfica) e, enfim, o aeroporto. Agora estamos na bela terrinha.

Após o descanso necessário, passei a conhecer os pontos turísticos da Capital Portuguesa, Lisboa. Conheci a Torre de Belém, Mosteiro dos Gerónimos, Castelo de São Jorge, Praça do Comércio, a Praça 25 de Abril, que homenageia a Revolução dos Cravos, movimento que em 1974 derrubou o regime salazarista em Portugal. Tudo teve início com versos da canção Grândola, Vila Morena. Visitei ainda outros lugares inesquecíveis. Fui à Serra da Estrela, onde saboreie o famoso queijo. Estive também na região de Trás-os-Montes, mais precisamente em Mogadouro. Quanto à culinária, é dispensável comentar, magnífica, muito bacalhau, sardinha, alheira e outras que é melhor mudar o assunto está dando fome.

Em uma noite, o deleite foi uma boa musica portuguesa de verdade, ouvi cantar um fado ao vivo, música tradicional portuguesa, Patrimônio Cultural Imaterial da UNESCO. O show foi em uma Casa de Fado com o nome “Fernando Pessoa”, logo na entrada estava escrito “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”. Recomendo, sem sobra de dúvida, é uma assertiva os dizeres do inesquecível poeta à entrada, como também é certo dizer: “quer conhecer a alma de um português ouça as cordas da guitarra portuguesa.”

Pois bem! À viagem está muito boa, mas não tem jeito, preciso voltar. Algumas horas depois, estou novamente em vôo, retornando ao Brasil. A saudade é dobrada. Já estou com saudades de Portugal, mas ainda mais do meu amado e querido Brasil. Terra que desde o descobrimento foi consagrada a Jesus Cristo, através da Cruz de Malta, com a primeira missa aqui rezada, solo abençoado por DEUS.

Após algumas horas estou em território brasileiro, não demorou o comandante comunicou: “Estamos nos aproximando do Distrito Federal, a cidade de Brasília.” Alguns minutos depois, disse: “Estamos sobrevoando Brasília”. Ainda disse: “Vejam quantos canteiros de flores com as cores da Bandeira do Brasil, as flores....” O comandante não chegou a terminar a frase e soou um alerta, um forte som, e de imediato comunicou: “Coloquem os cintos, muita turbulência, ventos de todos os lados, não havia previsão”. Neste exato momento, acordei meio assustado, percebi que o alerta, o som, era tão somente e unicamente do meu despertador. Percebi então que tudo não passava de um sonho, nada mais que um sonho. Que pena, mas valeu à pena. Não tem jeito, resta levantar, vamos ao trabalho, como dizem, vamos à luta. Meu sonho continua, eis que sonhar não custa nada, ainda vou à terrinha, ela que me espere, mas se não for possível, sem problemas, me contento com minha viagem virtual, olha que foi das boas.