"O GADO NÃO TEM CULPA!"

Ontem mesmo passei próximo a uma imensa pastagem e parei para contemplar uma grande quantidade de bovinos se alimentando tranquilamente...

Nada pedem, nada desejam, a não ser pastar... a não ser comer a relva, capim, tubérculos. Nada mais anseiam, além do sal que generosamente seu dono lhe fornece para aumentar ainda mais seu apetite, para continuar a comer, a pastar e estarem muito bem preparados... para a próxima leva, carregada inconscientemente ao abate...

Sem consciência plena de si próprios, não sabem por que vivem, para quem vivem e por que devem continuar a existir. Se por acaso, pudessem “suspeitar” das reais intenções “daquele moço”, que enche seu cocho de sal para que comendo esse alimento, aumentem ainda mais sua sede, sua fome, e estejam muito mais “roliços” para serem servidos nos restaurantes quando mortos... Se eles, ao menos, pudessem suspeitar dessa oculta intenção daquele moço, se absteriam de comer tanto e com certeza, não seriam tão amistosos com aquela “mão traidora” que os trata bem.

Animais em parte, se parecem com seres humanos. Sim, alguns guardam rancor, outros não. Pode ser que vez ou outra, quando saem fora da cerca e recapturados são e passam por uma espécie de correção bruta, continuam, mesmo assim, muitos deles, no dia seguinte, sua incansável busca por pasto, por água e a comer da mesma mão que lhe espancara um dia antes e vai lhes conduzir dentre em breve, para o matadouro sem demonstrarem rancor ou alguma admoestação...

Fazer o que?!

Como modificar a natureza intrínseca do bovino?!

É seu destino pastar todo o dia, na chuva, e em noite fria!

Unidos, procuram se aconchegar quando de grandes tempestades elétricas e com efeito não é raro se ouvir falar da morte de dezenas, centenas de cabeças de gado, juntas, num último gesto de união em família...

Pobres criaturas. Ninguém os pode ajudar. São dois seu destino: ou morrer de raio ao relento ou entrar para o cardápio alimentar da sociedade, sem que ninguém defenda sua causa e sem sequer conseguir mudar sua forma de agir e de pensar...

Nem que chegue no “maioral” deles (outro dia encontrei um), cujo mugido é possível ouvir a grande distância e falar: “você precisa mudar de vida, será que servem só para fazerem número no mundo, mais nada?! Reajam!”

Palavras perdidas, não adianta nada, nem que lhe jogue um balde de diamante, um pacote de dólar, eles só querem continuar a comer e defender seu presidente... mas, não tem culpa... o mundo tem.