Sou amigo do livro ou o livro é meu amigo?
Devemos ser amigos da informação. Ouço dizer, o livro quando se empresta, se emprestamos, deve fazer o caminho VV, vai e volta.
Mas para que serve o livro? Para ensinar, informar, enriquecer com seu conteúdo nossas vidas e condutas.
Se abraço o livro como amigo, e recebo dele seus predicamentos, suas concessões de ensinamento, absorvo e exercito a comunicação. Se o encarcero no seu maior fundamento, comunicar o que a humanidade discutiu, assentou e cresceu por força dessa concessão de ensinamentos, retiro de outros esse direito. O livro foi feito para circular. Só quem tem sentimento de posse fundado no egoísmo o retém.
O fio condutor da informação é de direito fundamental. Devo libertá-lo depois de ter lido seu substrato.
É como a regra constitucional da proteção livre da informação contida em seus limites não ofensivos, híbrida, de direito de se expressar e direito de quem recebe a informação de recebê-la sem censura.
O livro é como um amigo, se é que assim o considera, abraço o amigo, mas não posso prendê-lo, ele é um repositório de convívio, de trocas de experiências e jornadas vividas em aprendizado múltiplo. Se o prendo perde o sentido a amizade. Como prender um amigo? Por que imobilizá-lo em uma “biblioteca” se não é pública, sem acesso a todos. Hoje há movimento de fazer circular a informação do livro, inclusive com rastreamento. Coloca-se um livro em determinado ponto (um banco de praça, etc) e pede-se que se faça o mesmo quando tiver lido, e o deixe andar, e diga onde está quem o recebeu. Tem sido incrível o experimento.
Já se viu atravessarem oceanos, transitarem em continentes e por aí vai.
Reter para fazer biblioteca é sentimento de possessão. Ou de egoísmo? Alguns necessários ou mais estimados, sempre consultados, ou os de "chamego" pessoal , de cabeceira como se diz, lidos, relidos, trelidos, decorados, ou para atividades profissionais, compreende-se a retenção. Fazer biblioteca só se for para utilidade de muitos, como público. Ou de nada serve, só para figuração. Ou exibição?
Meu pai tinha monstruosa biblioteca profissional que usei e somei, já me desfiz de quase tudo, meu filho advogado dispensou tratadistas estrangeiros, direito comparado etc, é advogado consultor de empresas, pragmático. Deixei pouca coisa que preciso,uns mil, mais ou menos, o computador hoje preenche. Dei aproximados quatro mil livros para jovens estudiosos. A literatura que se lê do cotidiano, leio e deixo em chaveiro do bairro que tem pilhas de livros doados, como faço , que vão e voltam para disseminar ensinamentos. Fora daí o livro não é amigo de quem nada conhece dessa amizade. Cultura foi feita para circular, ou não se é amiga dela, e dela estamos distantes.