MORADOR DE RUA...
Vivem juntos, porém, não se misturam...
Trata-se dos moradores propriamente ditos e os moradores de rua “bebedores problemas”, os alcoólatras, propriamente falando.
Padecem dos mesmos males, mas, os sofrimentos individuais, pessoais, aos quais os “viciados” estão submetidos, são infinitamente maiores e piores aos impingidos aos chamados sem tetos!
Ser morador de rua é algo simplesmente aterrador, para expressar superficialmente o que vem a ser um e as agruras aos quais estão submetidos. Seu psicológico está sempre completamente abalado. Estão fracos moralmente, está “apagados” espiritualmente. Ainda mais quando aparecem esses seres nascidos também de algum relacionamento, entre um homem e uma mulher, e os chamam de vagabundos, sem ao mínimo, imaginar quem foram um dia ou respeitar sua situação de indigentes.
A impressão social que as pessoas pensam, logicamente, movidas pelo egoísmo e falta de amor ao próximo, é que os sem tetos, sempre estiveram assim e já estão acostumados a lidarem com semelhante situação.
Ora, ninguém se acostuma a viver, por exemplo, exposto a chuva e ao Sol, sem os devidos apetrechos para sua segurança individual. Um guarda chuva ou um mísero barraco, que seja.
Não. Um morador de rua, um sem teto, não nasceu assim. Um dia foi um pequeno ser, frágil, foi amado por alguém, teve um pai, uma mãe, que se preocupava consigo. Depois, teve coleguinhas de escola e amiguinhos na rua, brincou, se divertiu, depois, trabalhou... até que se transformou no que é hoje, infelizmente, pelas tão surpreendentes circunstâncias da vida. E por incrível que pareça, esse princípio transformador, também serve para vilas, cidades e até Países!
Muitos países prósperos, no passado, hoje, são escombros colocados, uns sobre os outros.
Consequentemente, seguindo parâmetros diferentes, acontece a mesma coisa com os seres humanos, Muitos moradores de rua, comprovadamente, tiveram nobres profissões. Muitos médicos, engenheiros, operários padrões, músicos, advogados, homens e mulheres, indistintamente. E Se encontram, infelizmente, segregados a essa tão triste situação.
Tanto pior, para os bebedores “instalados” na rua. Ora, se o mendigo comum, é sim, rechaçado por sua condição, o alcoólatra, é simplesmente, execrado, quando na realidade, precisaria sim, de mais auxílio. O que é negado, constantemente, tanto a um, quanto a outro.
Em toda a história da humanidade, somente me vem a mente, um único morador de rua, que além de estar feliz com sua condição, ainda por cima, pregava o desprendimento aos bens materiais aos seres humanos, um tanto exageradamente, é verdade, mas, por essa condição (de pregar o desprendimento e dar testemunho disso), passou aos anais da história como sábio e não somente como mendigo. Me refiro a Diógenes (1)(413-323 a.C.) sim, o sábio grego, que dentre outras excentricidades, teve o desplante (atitude audaciosa, ousada, corajosa, até), de simplesmente, literalmente, colocar Alexandre (o chamado, Grande) e sua comitiva, literalmente, para correr, cujo episódio, merece breve narrativa.
Alexandre (Alexandre, o Grande, rei da Macedônia, filho do imperador Fellipe II da Macedônia e de Olímpia, princesa de Epiro, nasceu entre 20 e 30 de julho de 356 a .C, na região de Pella na Babilônia), ficou sabendo que ali pelas redondezas, vivia lá um homem, que sobrevivia sem casa, sem comida, sem nenhuma regalia social e ainda por cima se sentia orgulhoso, por essa sua condição. Ora, Alexandre, conquistador que o era, não conseguia conceber que um indivíduo fosse capaz de sobreviver e sem ser feliz, despojado de bens materiais e precisava conhece-lo. E assim foi feito. Pois afinal de contas, um rei não pede... manda. Depois de algum tempo procurando, encontrou onde deveria estar Diógenes, na rua. Se aproximou, juntamente acompanhado daquilo que todo rei possui, seu séquito de puxa-sacos, desocupados, muitos que vivem às expensas dos reis, dos presidentes, dos governadores, etc., assim, como hoje, por exemplo vivem e se comportam, os adoradores de JAIR MESSIAS BOLSONARO...
Com efeito, sem muita delongas, perguntou, àquele que ele julgava ser só um mendigo:
- Sois vós, Diógenes, o chamado sábio?!
Passado alguns segundos, aquele sujeito, sem dar a mínima para os trajes reluzentes do Rei, brilhando sob o Sol e toda vestimenta nobre de seus seguidores próximos, perguntou, tão somente, sem levantar a cabeça:
- Quem quer saber?!
O outro:
- Alexandre!
- Sim, é assim, que me chamam.
- Dizem por aí que sóis o mais feliz dos homens, vives tranquilo, sem possuir absolutamente nada e por essa tua condição de desprendimento, venho aqui, para te fazer uma oferta irrecusável. Estou disposto a te satisfazer qualquer desejo em relação a posses e bens materiais que desejares. Escuta, podes falar. Pede qualquer coisa que eu, mo apressarei para te satisfazer. Diz.
Tendo o aparente mendigo, levantado a cabeça em direção a Alexandre, que nesse momento pela posição que se encontrava em relação ao Sol e ele próprio, fazia sombra sobre sua cabeça, falou, finalmente:
- Qualquer coisa me darás, disseste?
- Sim. Qualquer coisa. Palavra de rei. Disse Alexandre.
- Pois bem, então, te peço que saia da frente do Sol, que brilha gratuitamente sobre minha cabeça e meu corpo, e vós, por vossa posição nesse momento, está impedindo que os raios solares brilhem sobre mim. Só. Nada mais quero. Vai-te!
Humilhado, Alexandre, virou nos calcanhares, tomou de seus puxa-sacos e voltou para o seu palácio contrariado, por ter sido, simplesmente ignorado por um sem teto, um morador de rua...
(...)
Porém, com os avanços da sociedade moderna e a quantidade de milhares de pessoas que perdem suas casas, suas posições sociais e vão morar sob o Sol, sob a chuva e ao relento, grande parte dela ou talvez, tiveram pouco acesso a Filosofia para entender, por exemplo, que o desprendimento pessoal e a miséria, deve ser encarado como uma COISA NOBRE, digna, honrada, etc.,... a priori, o que mais necessitam é um pouco de comida, um copo de água, um teto e mais nada.
Não existe no mundo, algo que humilha e submete tanto a degradação um ser humano do que a fome, a sede e não ter onde recostar a cabeça para dormir. O calor excessivo, as quedas de temperatura, acordar pela manhã, sem um local para lavar rosto, às primeiras necessidades fisiológicas, um café da manhã ou um simples bom dia de alguém próximo. Trágico e degradante.
- (1) Diógenes - Diógenes, foi aluno de Antístenes, fundador da escola cínica. Em sua época Diógenes foi destaque e símbolo do cinismo, pois, tornou sua filosofia uma forma de viver radical. Diógenes expressava seu pensamento através da frase "procuro um homem". Conforme relatos históricos, ele andava durante o dia, em meio às pessoas, com uma lanterna acessa (logicamente, lanterna movida a óleo e pavio de algodão, é claro, e não de LED) pronunciando ironicamente a frase. Buscava um homem que vivesse segundo a sua essência. Procurava um homem que vivesse sua vida superando as exterioridades exigidas pelas convenções sociais como comportamento, dinheiro, luxo ou conforto. Ele buscava um homem que tivesse encontrado a sua verdadeira natureza, que vivesse conforme ela e que fosse feliz.