O DONO DE MIM
Eles sabe todos os meus segredos, especialmente aqueles que não conto pra ninguém. Conhece meus encardidos, farsas e remendos todos, todos mesmo. Sabe como me detonar ou salvar minha pele. É impassível pra criar ciladas e estratégias que nem imagino. Digo, até, que age de forma premeditada e maquiavélica comigo. Quantas vezes fiquei à sua mercê inteiramente. Quantas vezes me surpreendi fazendo coisas que não queria por sua causa. Sabe atiçar meus desejos com maestria. Tem o poder de me dissuadir e fazer recuar quando fazia tudo pra seguir em frente. Sou como marionete em suas mãos, só que não preso por barbantes, mas por fios de puro aço. Indestrutíveis. Já tentei fazer contato, interagir, tentar algum acordo, mas nada. Faz as coisas sempre do seu jeito e não admite palpites. Tem o meu corpo e alma cativos ao seu dispor. Consegue mexer nos meus pensamentos facilmente. Faz pouco caso dos meus sonhos, só valem as suas regras e nada mais. E é assim desde sempre, exercendo seu poder até a minha derradeira batida do coração. Até a respirada de arremate. Imagino que quando eu estiver enterrado, já com vermes se banqueteando da minha carniça, ele ainda estará mandando e desmandando, fazendo uso de algum fiapo de vida que ainda resista a minguar. Então, finalmente, descansará de vez. Daí, finalmente, vou sentir o gosto da liberdade, o prazer impagável da alforria. Porque ele, meu cérebro, teria abdicado do seu reinado que parecia nunca mais ter fim.