RIO ANTIGO - PARTE VI (cont.)
Para trás os sisudos ares do século XIX e avanços na arte, na moda e no comportamento - Rio, anos 20, cinco aspectos: vanguarda de design gráfico, canelas à mostra, mulheres empoderadas e coquetel de vícios presentes no cotidiano carioca.
-----Fim de uma época morreu com RUY BARBOSA em 1923, diz-se que "o homem mais inteligente do Brasil", último de uma longa lista de grandes figuras que personificavam o século XIX: EUCLIDES DA CUNHA (1866-1909), BARÃO DO RIO BRANCO (1845-1912), MACHADO DE ASSIS (1839-1908), OLAVO BILAC (1865-1918). Morte do diplomata-escritor-eterno candidato à presidência, virou definitiva entrada no século XX, liberou todo mundo e relaxou o ambiente austero e censurado, "já se podendo dançar maxixe, fazer o vexatório, falar palavrão, ninguém corrigindo o adjetivo" (brincando Ruy Castro, no livro "Metrópole à beira-mar")... - Ruy, o primeiro, eclipse em vida, funeral grandioso, mas prestígio diminuindo entre as novas gerações.
-----Revolução gráfica e editorial, BENJAMIM COSTALLAT, um dos jornalistas mais bem pagos da época e campeão de vendas com o escandaloso romance "Mlle. Cinema" (apreendido por atentado à moralidade), mudou o modo de vender livros ao fundar a empresa COSTALLAT & MICCOLIS, faro para temas de moda e aspecto de sensacionalismo nos livros que editava, reinventando o projeto gráfico das publicações, não mais capas lisas e minimalistas e sim capas vistosas e coloridas, assinadas por gênios: Di Cavalcanti e J. Carlos - com milhares de vendas, praticante inventou a edição moderna no país.
-----Evolução da moda, mudanças no vestuário da cidade, saiu mulher toda cheia de roupa, chapéu de dois andares e peito de pomba e foi para cabelo curto, chapeuzinho e roupa que foi se afunilando progressivamente. As saias subiram ao meio das canelas, mudança chegada ao Rio pouco depois de tendência no exterior, documentada com deslumbramento por jovem: jornalista e escritor e Peregrino Júnior. Grandes "influenciadoras" desta moda as filhas dos diplomatas das muitas embaixadas no Rio, além de filmes americanos, jornais e revistas, um novo frescor - os conservadores falavam na "praga do melindrosismo".
-----Mulheres em destaque, protagonistas no livro, em diversas áreas: soprano BIDU SAYÃO, poetas MERCEDES DANTAS e GILKA MACHADO, romancistas CHRYSANTHÈME e ALBERTINE BERTHA, bióloga e ativista BERTHA LUTZ, pioneira do jornalismo EUGENIA MOREYRA. Não reprimidas ou discriminadas por editores e críticos por serem mulheres, embora realidade e e oportunidades delas não era a mesma da maioria das mulheres da época - eram mulheres admiradas e respeitadas.
-----Cidade entorpecida, tendência mundial de drogas após o fim da I GM, alegre programa suicida à base de éter, cocaína, morfina, heroína e ópio, diversos escritores descrevendo (com conhecimento de causa) as 'fumeries', início nas adjacências da rua Primeiro de Março e se estenderam aos bairros mais finos. Menos chique e de fácil aplicação, a morfina era vendida em ampolas nas farmácias (poema "Pierrete", Manuel Bandeira, 1919). A cocaína tinha dezenas de apelidos: pó de lua, fubá mimoso - começou circulando em lugares chiques, como restaurante Assírio, logo banheiros de teatros e salões de beleza. Nada escondido, a revista "Para todos" tirava 50 mil exemplares por semana e tinha referências a cocaína em crônicas. A figura doce de Álvaro Moreira era fascinado e até deu o nome da droga a um livro dele.
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FONTE:
"Sobre saias, cafés e ´ópio", crônica de Bolivar Torres - Rio, jornal O GLOBO,
22/11/19.
F I M