RIO ANTIGO - PARTE VI

RUY CASTRO escreveu em 4 anos a reconstrução de uma cidade que deixou de existir há cem anos. Rio, anos 20 (ih, cem anos agorinha!).

Exposição do Centenário, 1922, montada e iluminada no espaço onde ficava o antigo Morro do Castelo, bem lotada durante dez meses de duração, apresentando as últimas novidades tecnológicas e científicas. Na atualidade, no livro "Metrópole à beira-mar", de Ruy Castro, espiríto carioca de 'avant-garde' - artistas, escritores, imprensa, moda, vida social e urbana: imagens dos principais personagens da época, desenhos arrojados em propaganda, capas de revistas e livros, o dia a dia daquela época, ecos de art déco e art nouveau, o modernismo que as pessoas viviam... cidade habituada a ser assim. Tese central do livro, revolução estética não em um manifesto 'eu-sou-assim', mas na respiração das ruas e estilo de vida rival, sem discutir comparação com a Semana de Arte Moderna de Arte Moderna de 1922 em São Paulo - personalidades dividiram os mesmos 'anos loucos', as calçadas e os cafés. Alegria, alegria, acabada a II GM. Vida real no mesmo período, não só a brincadeirinha de fazer revistas de vanguarda, "Klaxon" e outras, mas a modernidade em tudo: na ciência, no comportamento. Selvageria do "carnaval da gripe espanhola" (anos 18/19), cavalos invadindo ruas na Revolução de 1930, em seguida os nomes de VILLA-LOBOS, J. CARLOS, PIXINGUINHA, MANUEL BANDEIRA e CARMEM MIRANDA; um tanto menos conhecidos, THÉO FILHO, que definiu em best sellers os "vícios" de uma época, JAYME OVALLE, que não publicou, mas influenciou muita gente, e ainda EUGENIA MOREIRA, a primeira repórter mulher do país. Como dinossauros e mediadores das transições artísticas, COELHO NETO e GRAÇA ARANHA e RONALD DE CARVALHO, novas gerações. --- O Rio que não dorme, cerca de 1,1 milhão de habitantes e mais lâmpadas elétricas que Paris, a Cidade-Luz. Rio, onde o samba amadurecia. Fisionomia-cheiro-sons da cidade alterados pelos automóveis, badalados cafés, sofisticadas revistas consagrando o 'savoir vivre' da metrópole que todos queriam visitar. --- Em "O Rio de Janeiro do meu tempo", o escritor Luiz Edmundo (1878/1961) descrevera a cidade da virada do século em lenta transição de província para modernidade; Ruy, nascido em 1948, em "Metrópole à beira-mar" /25 páginas de bibliografia - Ruy, colecionador impulsivo de livros/, apanhado de uma época e de um tempo, retoma a narrativa onde o antecessor a deixara e descreve um Rio plenamente adaptado a velocidade e luzes, momento em que Coelho Neto e a turma da Confeitaria Colombo perde a influência cultural, pince-nez cai em desuso, as roupas encurtecem, autores "imorais", como Gilka Machado, tornam-se possíveis e casais dançam juntinho. --- Vácuo sobre essa época; a historiografia se interessa pelo século XX, pela Bélle Époque e por Pereira Passos (o prefeito reformista do "bota abaixo"). Morrem Lima Barreto (1921) e João do Rio (1922), chega Getúlio, os anos 1920 ficam abandonados...

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FONTE:

"Tempos modernos", crônica de Bolívar Torres - Rio, jornal O GLOBO, 22/11/19.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 25/06/2020
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