Lutas, Alegrias, Desesperos, Alívio - Reflexões de Uma Pandemia
Pense em acordar com o mundo virado de ponta-cabeça e descobrir que não pode mais abraçar ninguém, nem se dar as mãos e nem tampouco ir ou vir.
Você não enxerga o motivo disso tudo, mas sabe que a resposta está lá fora pairando sobre nossas cabeças como urubus invisíveis.
Crianças não vão mais a escola, não podem mais ir á praça pra brincar e nem mesmo sentir a grama verde em seus pés descalços.
Sair pra ver o nascer e o pôr-do-sol agora não é mais disponível. Virou artigo de luxo para poucos que ainda arriscam sua própria vida e a dos outros sem perceber.
O medo nos corrói como traças, perfura nosso tecido de certezas chegando ao véu de nossa alma e a cada dia que passa, torna-se uma amostra diferente do que não sabemos.
Foram 48 horas aqui no Brasil.
Apenas dois dias, mas foi tempo suficiente para mudar vidas de forma inacreditável.
Seria como se dormíssemos e ao despertar, não teríamos visto as vitórias de Senna, ouvido Beatles, chorado a morte de Mel Gibson no filme Coração Valente nem tampouco jogado futebol na quadra com os amigos.
Temos um inimigo declarado que desafia nossa memória, nossa capacidade de ser humano e de nos sentirmos seguros.
Não sabemos sobre os próximos capítulos desta triste novela e nem temos site de fofocas para nos trazer a sinopse de quando isto acabará.
Temos a missão de mantermos dentro de nossa sanidade para poder combater este inimigo que insiste em nos rodear.
Afinal, como Coringa diria, basta um dia ruim para que a insanidade tome conta da gente.
Trocando em miúdos, basta um descuido em nossa saúde e é o fim de tudo.
Temos aqui neste momento o maior desafio de todas as gerações. Desde de quem tem 30 e poucos anos como eu até os 40, 50, 60, 70, os de 10 e 20 anos, os bebês e as crianças da idade da minha filha (2 anos), enfim, todos nós.
O desafio de não nos ausentarmos, não esquecermos do calor dos abraços e beijos e da liberdade do cafezinho da esquina.
O Grande desafio de nos reinventarmos.
Nos próximos dias, meses e anos veremos se esse período valeu para reflexão dos nossos erros prometendo não repeti-los ou se somente acordamos de um pesadelo e continuamos caminhando trôpegos para os mesmos destinos funestos e mesquinhos de antes.
A resposta pra isso está dentro de nós.
De cada um de nós.