Não robotizada
Não mendigo nada, nem atenção. Tenho o cuidado de não usar cadeados, nem cordas ou algemas; que dirá muros. Quem adentra no universo que respiro, vem por sua conta e risco, e a porta fica sempre entreaberta. Não deixo escancarada por estratégia de sobrevivência e faculdade conservacionista.
Gosto do benefício da dúvida, as pessoas têm o direito à escolha. Quem sou eu, para construir masmorras, calabouços e jaulas? Só construo textos, pois os blocos de palavras são frutos de um intelecto operário. Sou tão livre das circunstâncias, das regras, basta as normativas! As relacionais, prefiro sem nó de marinheiro.
Não adoto a cultura individualista, narcisista ou egocentrismo; o cosmo não gira ao meu redor. Tenho consciência disso! Ainda bem! Imagine a responsabilidade? Ser exemplo. Estar numa redoma é para Santos, e Santa Jaciara não existe. Perfeito! Ao menos posso errar, pecar e arrepender-me.
Não nasci para destaque, e nunca fui rainha de bateria.
O anonimato é uma fascinação, e os bastidores é um lugar do meu agrado. Gosto do lado atrevido, sem escandalizar; discreto, estilo mineirinho. Mas com as facetas de um bom baiano; reinvenção, camaleão, fênix, idiossincrático. Nada além. Sou a contradição do teu querer, nada em mim, lembra você.
Sou um indivíduo de identidade, referência e cultura; sombra? Só dos coqueiros, cajueiros, umbuzeiros e juazeiros. Perfeição? Anos luz do meu raio de ação; meu jeito é cheio de defeitos, manias e vontades. Sou um ser pela metade, sem muitas vaidades, andando num caminho torto, com sapato roto.
Envelhecida pelo tempo, cabelos brancos disfarçados, rugas tímidas, gorduras localizadas...saturadas pelo espelho. Sem tesão para academia; agulhas, tenho medo! Meu segredo? Tarefa para o divino. Pecados? Atire uma pedra, se asas te pertencerem! A normalidade é minha praia, e ficar na minha é um protetor natural.
O desapego é um atalho que tenho caminhado, encurta os excessos. Tentar é um verbo que transita diretamente na minha cabeça. E, ficar preocupada com os gostos do outro, não é minha intenção. Sou uma errante inveterada, as vírgulas são a pedra da minha caminhada, e daí? As topadas não impedem a minha chegada.