CLARICE LISPECTOR. MODIGLIANI.

“Eu escrevo para nada e para ninguém. Se alguém me ler será por conta

própria e auto-risco. Eu não faço literatura: eu apenas vivo ao correr do

tempo. O resultado fatal de eu viver é o ato de escrever. Há tantos anos

me perdi de vista que hesito em procurar me encontrar. Estou com medo

de começar. Existir me dá às vezes tal taquicardia. Eu tenho tanto medo de ser eu. Sou tão perigoso. Me deram um nome e me alienaram de mim. Clarice Lispector”

Recebi em comentário parte desse texto, enviado por Cerson Machado, um amigo recantista.

Clarice lispector, encantadora em sua privacidade, textos intimistas e insondáveis à inteligência que nada na superfície. Mergulhos profundos em seu rosto de mulheres como em Modigliani, trazem sedução e encantamento. Amedeo Modigliani, pintor e escultor italiano, conhecido como o “príncipe de Montparnasse”, Paris, famoso por seus retratos com rostos alongados e nus eróticos. Rostos enigmáticos, soturnos no talhe de Clarice.

Clarice enlaça esses píncaros de um mundo diferente. Liga a fatalidade ao ato de escrever. Tem medo de ser ela mesma, hesita em se encontrar, meta de todos, não quer seu encontro com a realidade, por isso nos enriquece quando flana por lugares a nós desconhecidos, mas que encantam, seduzem, e alongamos os braços para se tornar possível voar e flanar em seus voos. Mas ela vive apenas ao correr do tempo, os outros correm atrás do tempo enquanto ele passa.

O tempo é doce e implacável, deixá-lo correr sem tentar alcançá-lo é tanto real como de fina e rara inteligência.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 23/06/2020
Reeditado em 23/06/2020
Código do texto: T6986084
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.