Com Carminha

Praça Mauá, Rio de Janeiro, foi antro de intensa boemia, nos anos 1970, e em décadas anteriores.

Fase morta aquela.

Agora a Mauá é espaço cultural – e turístico. Mudou para melhor.

Área portuária no centro da cidade, cercada de bares, boates e congêneres.

Submundo, naquele tempo. Local de constante tensão, perigo.

Por isso atraía tanta gente. Drogas, extorsões, furtos – e crimes diversos.

Carlos Tito, CT, andou por lá. Ano de 1978.

Conheceu uma dama da noite, Carminha. Branquinha, meio gordinha. Sobrevivia na profissão, prostituição.

Dizem, é a mais antiga profissão do mundo.

Se cruzaram num bar, da Mauá. Tito a chamou para um chopp. Mais ou menos 9 da noite. O acerto foi rápido – claro, esses negócios não devem demorar. Meninas precisam ganhar a vida e quanto mais cliente, melhor.

Carminha morava numa espelunca, um pequeno aposento, uma cama (bem, esta não poderia faltar), um pequeno guarda-roupa.

Combinaram, iriam ao quarto dela. Tomaram mais um chopp cada um. CT quitou a conta, e foram. Fecharam no caminho o valor do programa.

Chegaram. Carminha abriu a porta do aposento.

–---- Te deita aí, na cama, amor – ela pediu ao companheiro de momento.

------ Quer tomar banho? O banheiro fica atrás, lá atrás.

Ele foi. Se banhou, voltou.

Deitou-se.

Carminha estava um pouco agitada. Disse a CT: ----- Amor, me espera um pouquinho. Vou rapidinho aqui, não demoro. Me aguarda.

------ Não se demore, amor - disse-lhe o parceiro.

A mulher saiu, trancou a porta por fora. Tito ficou preocupado (dela ter passado a chave na porta). Depois, porém, relaxou.

Imaginou: “Bem, se ela demorar muito, arrebento a porta, vou embora”.

Ficou na cama, deu um cochilo.

Ouviu barulho na fechadura. Alguém estava abrindo a porta. Sentou-se na cama. A porta se abriu, era a parceira, Carminha.

----- Demorei?

----- Não, não. Foi até bom, dei um soninho, descansei um pouco.

–---- Vou tomar banho – Carminha disse ao companheiro de noite.

Foi. Regressou enrolada na toalha.

CT ficou curioso. Queria saber aonde fora a mulher, ela, Carminha.

------ Fui comprar uma coisa, mas não te direi o quê – ela respondeu.

Ele não quis insistir. Pouco importava o que Carminha comprara.

Os dois deitaram-se.

Carminha, branquinha, gordinha. Do tempo do submundo que foi a Praça Mauá. Só quem a frequentou experimentou aquele inferno. Como tantos outros logradouros semelhantes, espalhados pelo mundo.

Até hoje Tito não sabe o que ela foi comprar. Ela negou-se veementemente a revelar. Vocês sabem, meretriz quando firma posição, ninguém muda.

Por onde andará Carminha, a musa da Mauá, branquinha, gordinha?

Estará ela viva?

Não sei...

Salatiel Hood
Enviado por Salatiel Hood em 23/06/2020
Código do texto: T6985532
Classificação de conteúdo: seguro