FIASQUENTOS !
Nossa ! Que fiasqueira...
Indecente !
Jesus Amado !
Estes termos eram usados como um mantra por minha mãe e suas irmãs – as tias – em número de cinco adoráveis e inesquecíveis figuras.
*****************************************************
Uma tarde qualquer lá pelos desbotados anos 50:
Meu primo e eu, acompanhamos minha mãe para uma daquelas visitas que duravam quase uma tarde inteira à casa de dona Rosa, sua amiga.
O local não poderia ser mais acolhedor.Depois de cruzarmos um longo caminho de mata rala, fazendo o trajeto pelo “carreirinho” ladeado de pés de vassouras,com floradas que cheiravam à mel, avistamos no alto de uma pequena colina, a cumeeira da casa - daquelas com sótão – ladeada de muitas árvores frutíferas.
Uma pequena parada e uns goles de água fresca diretamente da fonte ao lado do pontilhão.
A partir daí, já avistava-se a porteira que dava para o extenso terreno de propriedade da senhora a ser visitada.
Principia-se o sermão:
Sentamos para ouvi-lo com atenção:
-Nada de fiasqueira na casa da Rosa ! Entenderam ?
Sentem-se “bonitinhos”, ouçam com educação à tudo que “os mais velhos” falarem.
Se desejarem alguma coisa – um copo d água – por exemplo, peçam com delicadeza, depois agradeçam.
Nada de “traquinagem”.
Comportem-se !
Na hora do café, comam com moderação, e com elegância à mesa.
Assim, dona Rosa dirá às suas amigas:
Tão educadinhos o filho e o sobrinho da Dida.
[ Para todos os efeitos, a coisa seria...Mais ou menos assim ]
Mal acabamos de entrar e meu primo solta a primeira educadíssima pérola:
-A senhora não tem medo de morar “cos tigre” nesse matão dos cornos ?
Dona Rosa sorri. Dona Dida quase tem uma síncope, nos lançando um olharsinho...Nada 43.
Conversa vai, conversa vem, levanto-me e vou à uma das janelas.
Incontido lanço a segunda pérola:
“Putaquiospariu!” de mimosa e caqui ali no quintal. Sisse, esse era o apelido do meu primo, venha ver aqui !
-Nooooossa !!!
E tem até um ninho de passarinho alo ao lado direito do caquiseiro.
"Vamo" lá ?
Nada disso,meninos. Comportem-se !
Lembrem-se do que combinamos à beira do riacho.
-Deixe que eles catem “umas frutinhas”, aconselha a dona da casa.
Foi o suficiente para que desembestássemos quintal à dentro para todas as mimosas e caquis a que supostamente tínhamos direito.
Não satisfeitos, nos embrenhamos na mata à procura de ninhadas de passarinhos e outras aventuras daquela época.
Mais algum tempo e fomos “convocados” para o café das três.
[ À este, minha mãe só sobreviveu porque era forte ]
Dona Rosa, à beira do fogão, fritava bolinhos da graxa,ou bolinhos de chuva, como queiram.
Colocava uma remessa sobre a mesa e nós “ardentemente” a devorávamos.
Minha mãe desesperava-se.Quando dona Rosa virava as costas para mais uma fritada, éramos agraciados com tapas e beliscões.
Parecia que um espírito malígno havia incorporado no corpo da meiga Dona Dida e dois espíritos esfomeados em nossa pele.
Depois de empanturrados, não demorou e voltamos para casa.
Na despedida, minha mãe desculpou-se,ao que dona Rosa lhe respondeu:
-Não ligue ! Criança tem apetite mesmo.Estão em fase de crescimento os piazitos.
[ Juro que,pelo olhar da distinta, “Piazada do Djanho” era o que realmente ela pensava ]
Cruzada a porteira, dona Dida desabafa:
-Fiasquentossss!!!
Indecentes!!!
Mortos de fome!!!!
Jesus Amado !!! Que vergonha da dona Rosa.
Super nutridos, com estômagos bem forrados, nós caíamos na gargalhada.
**********************************************************
Como uma coisa puxa outra, esse episódio veio-me à lembrança, quando hoje numa panificadora próxima eu rematei os últimos 6 pasteisinhos que estavam em exposição.
A atendente, que é minha amiga, comentou:
-“Ôpa ! Hoje em seu trabalho, vais ter companhia para o café das três.
Nada respondi, apenas lancei um sorrisinho marcela do campo.(Amarelo e desbotado).
Cruzando a galeria que dá pra rua onde trabalho, mentalmente fui me auto xingando:
Fiasquento !
Indecente !
Morto de fome !...
Jesus Amado !!! Que vergonha da atendente!...
Nossa ! Que fiasqueira...
Indecente !
Jesus Amado !
Estes termos eram usados como um mantra por minha mãe e suas irmãs – as tias – em número de cinco adoráveis e inesquecíveis figuras.
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Uma tarde qualquer lá pelos desbotados anos 50:
Meu primo e eu, acompanhamos minha mãe para uma daquelas visitas que duravam quase uma tarde inteira à casa de dona Rosa, sua amiga.
O local não poderia ser mais acolhedor.Depois de cruzarmos um longo caminho de mata rala, fazendo o trajeto pelo “carreirinho” ladeado de pés de vassouras,com floradas que cheiravam à mel, avistamos no alto de uma pequena colina, a cumeeira da casa - daquelas com sótão – ladeada de muitas árvores frutíferas.
Uma pequena parada e uns goles de água fresca diretamente da fonte ao lado do pontilhão.
A partir daí, já avistava-se a porteira que dava para o extenso terreno de propriedade da senhora a ser visitada.
Principia-se o sermão:
Sentamos para ouvi-lo com atenção:
-Nada de fiasqueira na casa da Rosa ! Entenderam ?
Sentem-se “bonitinhos”, ouçam com educação à tudo que “os mais velhos” falarem.
Se desejarem alguma coisa – um copo d água – por exemplo, peçam com delicadeza, depois agradeçam.
Nada de “traquinagem”.
Comportem-se !
Na hora do café, comam com moderação, e com elegância à mesa.
Assim, dona Rosa dirá às suas amigas:
Tão educadinhos o filho e o sobrinho da Dida.
[ Para todos os efeitos, a coisa seria...Mais ou menos assim ]
Mal acabamos de entrar e meu primo solta a primeira educadíssima pérola:
-A senhora não tem medo de morar “cos tigre” nesse matão dos cornos ?
Dona Rosa sorri. Dona Dida quase tem uma síncope, nos lançando um olharsinho...Nada 43.
Conversa vai, conversa vem, levanto-me e vou à uma das janelas.
Incontido lanço a segunda pérola:
“Putaquiospariu!” de mimosa e caqui ali no quintal. Sisse, esse era o apelido do meu primo, venha ver aqui !
-Nooooossa !!!
E tem até um ninho de passarinho alo ao lado direito do caquiseiro.
"Vamo" lá ?
Nada disso,meninos. Comportem-se !
Lembrem-se do que combinamos à beira do riacho.
-Deixe que eles catem “umas frutinhas”, aconselha a dona da casa.
Foi o suficiente para que desembestássemos quintal à dentro para todas as mimosas e caquis a que supostamente tínhamos direito.
Não satisfeitos, nos embrenhamos na mata à procura de ninhadas de passarinhos e outras aventuras daquela época.
Mais algum tempo e fomos “convocados” para o café das três.
[ À este, minha mãe só sobreviveu porque era forte ]
Dona Rosa, à beira do fogão, fritava bolinhos da graxa,ou bolinhos de chuva, como queiram.
Colocava uma remessa sobre a mesa e nós “ardentemente” a devorávamos.
Minha mãe desesperava-se.Quando dona Rosa virava as costas para mais uma fritada, éramos agraciados com tapas e beliscões.
Parecia que um espírito malígno havia incorporado no corpo da meiga Dona Dida e dois espíritos esfomeados em nossa pele.
Depois de empanturrados, não demorou e voltamos para casa.
Na despedida, minha mãe desculpou-se,ao que dona Rosa lhe respondeu:
-Não ligue ! Criança tem apetite mesmo.Estão em fase de crescimento os piazitos.
[ Juro que,pelo olhar da distinta, “Piazada do Djanho” era o que realmente ela pensava ]
Cruzada a porteira, dona Dida desabafa:
-Fiasquentossss!!!
Indecentes!!!
Mortos de fome!!!!
Jesus Amado !!! Que vergonha da dona Rosa.
Super nutridos, com estômagos bem forrados, nós caíamos na gargalhada.
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Como uma coisa puxa outra, esse episódio veio-me à lembrança, quando hoje numa panificadora próxima eu rematei os últimos 6 pasteisinhos que estavam em exposição.
A atendente, que é minha amiga, comentou:
-“Ôpa ! Hoje em seu trabalho, vais ter companhia para o café das três.
Nada respondi, apenas lancei um sorrisinho marcela do campo.(Amarelo e desbotado).
Cruzando a galeria que dá pra rua onde trabalho, mentalmente fui me auto xingando:
Fiasquento !
Indecente !
Morto de fome !...
Jesus Amado !!! Que vergonha da atendente!...