Um bichinho em casa

É muito bom ter em casa um bichinho. Não é só pela companhia. É que diante de um quadro social caótico, que nos desequilibra, a tendência é focarmos no pior lado das coisas.

Minha gata, Nikita, me dá lições de vida. Em gestos felinos, tem dito ser desnecessário o gasto com bolinhas, ratinhos de plástico... Para ela, uma caixa de papelão, uma bolinha de papel bastam. Ela passa uma tarde inteira entre sua água, ração e esses brinquedos. Pula pra lá, pra cá; empurra lindamente com sua patinha peluda a bolinha; dá salto mortal e, com uma habilidade de causar inveja, já está nos cumes da casa, sem causar nenhum prejuízo. É interessante e até curioso observar como ela se basta e vive bem consigo mesma e suas coisinhas. Fosse livre, nem precisaria de alguém para lhe dar comida.

Ter um bichinho é ter um garimpeiro em casa, capaz de extrair dos seus moradores os sentimentos mais áureos. Rimos quando queremos chorar e amamos quando queremos odiar. Toleramos muito mais uma sociedade predatória que se dedica sistematicamente a camuflar a beleza da vida.