COTAS NÃO É ESMOLA
Suponho que vocês devem ter olhado na mídia nesses últimos dias a notícia de que o governo federal revogou a portaria criada em 2016 que obriga as universidades públicas de todo o país a criarem políticas inclusivas em seus cursos de pós-graduação.
Acontece que na prática esta portaria nunca foi implementada na maioria das universidades. Alguns cursos de pós-graduação inseriram pela primeira vez cotas em seus editas em 2019, ou seja, no ano passado, mas, a disponibilização de cotas não significou que pessoas com deficiência, indígenas e negros ingressaram mais nos cursos de pós-graduação nesses dois últimos anos.
Como é o caso das pessoas com deficiência que na maioria dos editais não aparece nenhum candidato para concorrer a seleção e os motivos para isso são vários, o primeiro é que no Brasil o número de pessoas com deficiência com ensino superior completo segundo dados do IBGE não chega nem a 1%.
Segundo é o fato de que a reserva de vaga, não significa em hipótese alguma, a garantia de condições acessíveis e inclusivas para concorrer a todos os processos de seleção, sem contar que na prática todo processo de seleção nunca leva em consideração nenhuma das especifidade que coloca pessoas com deficiência em condições de extrema desigualdade física, psicológica, social e até intelectual em relação a pessoas sem deficiência
O fim das cotas na pós-graduação significa uma intensa retomada a política de extermínio, iniciada desde a colonização.
Além disso, existem milhões de outros fatores que excluem pessoas com deficiência, assim como, indígenas e negros dos cursos de pós-graduação no Brasil.
Quero deixar claro aqui que cotas não é esmola é só uma pequena ação do Estado para inserir, mesmo que de modo excludente, a maioria das pessoas que vivem no Brasil que historicamente foram excluídos da sociedade por diversas razões sociais, étnicas, territoriais e econômicas.
Sou Zeneide Cordeiro, pessoa cega e tenho muito orgulho de dizer que fiz pós-graduação numa universidade pública por meio de cotas.