Era semi-interna em um colégio de freiras. Além da ficha de leitura obrigatória mensal, locava outros livros na biblioteca e os lia simultaneamente.
Ávida de curiosidade e sedenta em aprender e saber mais, encontrava neles muitas respostas em um mundo sem internet.
Durante as férias, também eram sua companhia e lhe traziam um prazer indescritível.
Antes de aprender a ler, observava seus pais, em silêncio, concentrados, lendo grandes volumes. Às vezes, se aproximava de um dos dois e perguntava:

— Quando vou aprender a ler? Em seguida, exclamava — Vou aprender a ler! E aprendeu.

Anos depois, durante o evento de conclusão do ensino fundamental, que naquela época finalizava no 8º (oitavo) ano, teve uma grande e grata surpresa.
A madre superiora, empunhando o microfone, anunciou mais ou menos assim:

— Na oportunidade, entregarei uma medalha de honra ao mérito para a única aluna que durante oito anos como estudante desse colégio, leu todos os livros da biblioteca que, em minha opinião é uma grande proeza.

Estava ali, entre os demais, prestando atenção em tudo o que se passava e visualizou mentalmente a biblioteca, cheia de galerias e milhares de prateleiras repletas de livros, com os mais variados temas.
Logo após, um frio percorreu sua espinha, quando ouviu seu nome pronunciado ao microfone. Todos os olhares naquele momento se voltaram em sua direção. Pôde também ver o orgulho estampado através dos olhares de seus pais. Era muito tímida e suas mãos tremiam visivelmente quando se dirigiu ao palco para receber o prêmio. Gaguejando, esboçou um acanhado agradecimento, embora estivesse explodindo por dentro. Logo depois, todos de pé a aplaudiram.
Não imaginava que um dia receberia uma medalha por algo que não exigia esforço algum e que lhe trazia grande prazer. Mas, depois de algum tempo, percebeu que a leitura, embora lhe fosse algo prazeroso, para outros, era exatamente o contrário.
Foi um dia inesquecível para aquela garota de 14 anos.