Deixa doer...
Um dia, a dor tomou conta da minha alma, sem explicação, motivo ou razão. Pelo menos era o que conseguia ou o que queria enxergar no momento.
Ver as coisas leva tempo, é preciso entender isso.
Algumas pessoas dizem, que com o tempo parar de doer, outras que o tempo leva… será?
A gente tenta a todo custo evitar a dor, seja ela qual for, só por medo se sentir. Coloca-se mertiolate, um band-aid na ferida aberta que encharca de sangue, com uma necessidade de que logo sare, cicratize.
Pra quê a pressa? Nessa ânsia de tamponar a dor, a ferida, mesmo coberta, continua aberta.
O que se fez foi disfarçar a superfície, sendo que a dor, a dor mesmo, se encontra nas profundezas. Adentrar no esconderijo da dor requer coragem, pois pode doer muito. E como dói.
No entanto, ficar maquiando, evitando, fazendo de conta que a dor, seja ela qual for, não existe, dói muito mais.
Um dia ela aparece de surpresa e grita bem alto: ESTOU AQUI!! A dor faz parte e parte a gente de um jeito incomensurável.
Quem nunca sentiu alguma dor, o que é muito difícil, ainda não viveu do jeito que é pra se viver, sentindo, inclusive, considerando aquilo do que queremos nos resguardar.
É, eu sei, dói perder, dói escolher, dói partir, dói parir, dói a ausência, dói deixar ir, dói viver, dói, dói, dói…
Aprendi a duras penas a lidar melhor com a dor, até com a dor que não tem nome.
Sim, às vezes ela não tem nome.
Talvez eu tenha aprendido a nomear e por isso, ela passou.
Talvez as sessões de análise tenham me ajudado, ou ainda as rezas que fiz, não sei.
Talvez seja porque resolvi sentir de verdade, sem negação da realidade.
Talvez, na melhor das hipóteses, seja a junção de tudo isso, vai saber, só sei que passou!