Reflexo

Em uma noite tempestuosa, a melodia da chuva e o cinza do céu sob mim. Os ventos abafando meus mais sublimes desejos. Sinto- me despida em meio aos mais belos versos de amor. No meio da alma. Encho a taça de vinho e inclino-me ao parapeito da janela, fecho meus olhos e sinto o vento gelado, como alguém que desesperadamente aprecia o caos. Um gole do vinho e minha garganta queima em gritos que já não se pode mais ouvir. Uma parte de mim, misturada com o sabor doce como mel.

Fixo meus olhos na bela taça de vidro e observo demasiadamente o outro lado. Pergunto-me por horas, o que via na taça, o reflexo e lágrimas inconsequentes.

Sinto, agora mais que nunca que estou presa em meu próprio reflexo, ao meu eu. Buscando as mais profundas respostas, acreditando que minha alma sempre esteve do outro lado.

Solto a taça e assisto os pequenos pequenos pedaços caindo. Quebrando.

Pedaços estes, meus. Tão pequenos para serem colocados de volta. Pequeninos demais para serem vistos com importância. Porém grandes demais para deixá-los em pedaços se eu os tocar.

Os versos que um dia escrevi, marcados pela tinta preta da caneta estão voando e agora manchados com o vinho e o sangue. Os ventos já não sufocam-me mais, eles devolvem-me- ar enquanto meu corpo está encharcado pela chuva, pelo vinho, pelo sangue. Meus olhos se recusam a abrir, parecem cansados demais e eu ainda me pergunto, agora na suavidade dos pensamentos, quem sou eu.

Descobri enquanto sentia meu corpo ser mergulhado que sempre fui o meu próprio caos na alma, no coração, no ser.

Mas já era tarde demais, o sol já havia chegado.

Alanna Liz
Enviado por Alanna Liz em 22/06/2020
Código do texto: T6984376
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