Polinizar ou polemizar, eis a questão!
Estava observando as perigosas abelhas nas frágeis flores receptivas no meu quintal. Ambas, abelhas e flores, têm um objetivo na vida. E para a vida. Aquelas possuem uma função espetacular na natureza, pois levam o pólen de uma flor para outra, dando o início da fecundação, o que gera frutos e sementes. Estas possuem a responsabilidade de reproduzir novas plantas com seus frutos e sementes, auxiliadas por outros auxiliares voadores, mas principalmente por aquelas que, às vezes perigosas, transformam sua labuta em mel. E assim o ciclo da vida sempre se reinicia...
Participamos todos de um único ecossistema, a Terra. Não há para onde possamos ir se queremos nos isolar daqueles que nos fazem mal, que nos desprezam, ou daqueles que nos odeiam. O planeta não tem canto, posto que é redondo. Por isso vivemos nos esbarrando uns nos outros e nos admirando: “Puxa, como o mundo é pequeno!”. Sim, o mundo é pequeno, pequeno e redondo, figura geométrica perfeita. Deus é perfeito, Ele fez tudo perfeito! Ele nos fez perfeito, Ele nos fez para polinizar, todavia insistimos em polemizar. Somos seres perigosos, para a natureza e para a própria espécie humana. Construímos barreiras, inflamamos as contendas, alimentamos as guerras. Desejamos o quintal do próximo, a mulher do próximo, desejamos ser o próximo. Há uma ganância e uma ignorância, mesmo Deus tendo feito tudo para todos, muitos querem tudo de todos.
Precisamos ser mais abelhas. Elas trabalham incessantemente para a comunidade. Para a reprodução da espécie. Trabalham em sintonia e sincronia, com um objetivo: a manutenção da colmeia. Não têm tempo para polemizar. Somos quase como abelhas, trabalhamos incessantemente, para nós mesmos. Para a reprodução dos nossos bens. Trabalhamos com um objetivo: ter mais. Não importa de onde tiraremos. E aí, entre nós, criamos o ato de polemizar, por que uns têm tanto e outros nem tanto têm? Por que não eu? Por que o outro? Por que o quintal dele é mais verde? Por que não tenho um carro igual ao dele? Queria um marido igual ao seu... ah, se minha esposa fosse igual à sua... puxa vida, ele tem; e eu, não. Não nos conformamos com a vitória do outro, não nos alegramos com o que temos. Deixamos, muitas vezes, de semear o bom perfume da vida para regarmos discórdia, inveja, ódio.
O escritor bíblico Lucas (Atos 2:42) nos fala de uma comunhão sem par na qual o partir do pão se dava a todos. Todos agiam em prol de todos, “polinizavam” a comunidade com alegria, perdão e amor. Tudo era de todos. Assim fez Deus, tudo era para ser de todos, porém o olho cobiçoso, a mão furtiva, a mente perversa subverteu a ideia primária de comunhão. Agora a nós nos resta o agir individual da polinização do amor ao próximo, antes que a flor se feche em si.