UM CONVITE À PROSTITUIÇÃO
UM CONVITE À PROSTITUIÇÃO
A hora estava marcada para um encontro "sacro-amoroso". E, enquanto se aguardava que chegasse o momento, o gato de duas patas vestido um quanto tanto semi-formal, aproveitou dar uns passeios à margem das montanhas sagradas vestidas dum verde ora alface, ora escuro; por sinal as folhas emprestavam as cores aos raios solares, já que não apresentavam uma cor permanente como as correntes dos rios.
Com a visão presa às vista daquela paisagem ornamentada com formosos jardins, caminhava nuns passos clássicos, ou quiçá, ensaiava para um desfile registado nos segredos dos deuses? Não se sabe. Mas, na verdade, caminhava com passos cínicos, como se ostentasse sua elegância às pessoas que cruzassem seu caminho.
Faltavam, apenas, uns poucos metros do local tradicional do encontro, quando uma mulher semi-vestida descia do monte (sagrado) com um convite semi-objectivo, convite este, irresistível para um destinatário, principalmente, masculino. Sem se importar com sua presença, continuava caminhado e desfrutar os encantos que a mãe natureza decente(mente) apresentava.
Da ignorância dos actos que se praticavam ai, olhava cada vez mais nos encantos naturais, esperando assim, que a inspiração viesse sobre mim para compôr um poema (a natureza é a fonte primária de inspiração para qualquer poeta), quando uma uma voz semi-carente, rasgou o silêncio do ambiente gritando:
- Moço qual é a ideia? - enquanto que com um braço tentava em vão ajustar o vestido.
Já fora do meu arrebatamento lírico, continuei no meu caminho, não fazendo caso do clamor. Apercebendo-se que não houve reação pela parte do alvo, gritou com mais vida:
- (...) Qual é a ideia? - virei-me para o outro lado da estrada onde se encontrava e respondi inocentemente:
- Nenhuma - enquanto prosseguia no meu caminho, pensava na razão da moça ter me chamado, questionava-me: " o que realmente ela queria? Que ideia era aquela que a mulher perguntava? Sem ainda que as respostas viessem ao miolo, assustei já me encontrava o lugar objectivado.
Como se fosse na novela, lá vinha o alvo do encontro sobre as sombras daqueles eucaliptos coloniais, dissipando com seu sorriso gentil toda sombra do pretérito. Era como a luz no mito da caverna que iluminava o obscurantismo do presente ontem futuro.
Logo ao final do encontro, recordei do convite-proposta que foi-me feito pela aquela moça do monte, que não mais pode guardar e disse:
- Estava a dar uns passeios naquela zona, quando uma mulher perguntou-me: " qual é a ideia?" - Sabes o que ela, realmente, queria dizer com isso?
- Só fizeste bem de não dar tempo aquela mulher. Aí, é o lugar onde as mulheres de vida ficam a espera dos clientes e, pensam elas que qualquer um que aí passa está a procura dos seus serviços - enquanto ficava de boquiaberta, ela terminou a resposta com o conselho: evita passar pela aquela via, por favor.
- Está bem, muito obrigado - continuei - então, foi um convite à prostituição.
Crônicas de Buazeca.
Por;
©João Buazeca Domingos.