PROFETA MATUTO

Sebastiãozinho não tinha vizinhos próximos e o diminutivo era pelo carisma que despertava nas pessoas. ¨Que Deus habite seu coração, de sua família e de todas as pessoas do mundo¨. Já havia passado de meio século há alguns anos. Homem simples, corpo franzino, cabelo nos ombros e dono de uma sabedoria popular, invejável.

Durante o dia tinha a luz do sol. Nas noites frias, a lua. Na falta desta, uma infinidade de estrelas pra iluminar o terreiro. Por precaução, mantinha uma lamparina próxima à rede. Costuma dizer que gosta mais do natural.

---- A natureza ensina mais que os homens da cidade. Profetizava Sebastiãozinho.

Todavia, nem tudo que necessitava, tinha ali. Às vezes, precisava descer até a cidade.

No entanto, sempre que chego lá, meu sentido é voltar pra casa. Dizia ele.

Um homem religioso que não gostava de frequentar igrejas ou templos. Apenas Vivia intensamente sua religiosidade. Nos afazeres do dia a dia, passava horas cantando hinos de louvor: ajuda a afastar coisas ruins e atrair as boas. Sempre sensato, homem do mato, que nunca possuiu uma arma de fogo.

Colocou a bicicleta do lado de fora da casa. Sua mais fiel companhia, desde o século passado.

---- É a muié que não possuo. Afirmava orgulhoso.

Antes de montar na bicicleta, olhou para a parede da casa. Lá estava a lagartixa, na sombra da forquilha, calma. Agia sempre assim toda vez que ia a cidade. Se a lagartixa balançasse a cabeça, sabia que a energia na rua estava muito carregada e evitava ir. Aprendeu a viver em harmonia com os sinais.

Na garupa da bicicleta, uma abobora amarrada com retalhos de uma velha câmara de ar. Em sua experiência de vida, levava sempre alguma coisa amarrada na garupa de sua companheira. Era a ¨ciência¨. Ninguém podia com ele!

Depois de resolver seus compromissos na cidade, decidiu ir pela rua principal, aproveitando o declive da rua. A idade já não permitia tantos esforços.

Na bicicleta em plena ¨banquela¨ pelo calçamento, Sebastiãozinho avistou sentados na calçada um grupo de políticos e outras pessoas em pé. Estes últimos, nosso profeta costumavam defini-los, como: ¨pessoas de apoio popular¨.

E assim vinha ele, sereno, cabeleira solta ao vento. Porém, ao se aproximar do grupo, sentiu o ar carregado. Desviou a bicicleta o máximo que pôde para o outro lado da rua e sentindo a necessidade da ocasião e o peito transbordando em profecias, lembrou dos hinos de louvor:

¨Foi na cruz, foi na cruz, que um dia eu vi, meus pecados castigados em Jesus...¨

Henrique Rodrigues Inhuma PI
Enviado por Henrique Rodrigues Inhuma PI em 21/06/2020
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