Um novo passado.
Uma única lágrima, simples, mas verdadeira, neste momento tão oportuno para uma breve bebida – forte e tão carmesim como o sangue de indigentes que espreitam os becos e as avenidas desta cidade sem identidade, manchadas e marcadas por uma história que transgride o entendimento de tantos que sonham e esperam um socorro que parece estar longe desses olhos marejados. Como pude duvidar das sábias palavras que meu pai tecia nesta varanda? Como pude duvidar do som do salgueiro, enquanto muitos morriam sem uma razão ou explicação para causas que jamais serão julgadas, mas apenas submetidas a duras penas por pensadores sem nenhum sentimento, que erguem uma bandeira que traduz a falsidade ideológica da fome de justiça e de tantas mães que expressam seus gemidos sem serem ouvidas – que choram e padecem sem ao menos serem percebidas?
Com muitos poderes, homens ditam o rumo de filhos de uma pátria não tão gentil, esmagam e destroçam casas, famílias, escolas, pais e um País inteiro. Desgraçam uma realidade – iludem crianças com falsas cartas de um jogo que não possui um vencedor sequer. Todos perdem no tabuleiro da hierarquia insana dos criadores de tantos destinos, que são apenas mascarados, escondendo os massacrados que desafiam suas ordens. Talvez a tarde demore a chegar, talvez a verdade não bata a tantas portas, talvez esse filho não retorne nem cante a mesma canção de liberdade que ainda procuro nas ondas de tantas rádios mudas que foram aprisionadas e que ainda são caladas, por acreditar que o tempo ainda corre no largar dos pensamentos. Contudo, esses pensamentos estão embebidos em um cálice de sangue e de vergonha. Loucos e perdidos, sem rumo e criando expectativas frustradas, desejam a morte de alguns, não por uma crença mentirosa, mas pela vida de tantos outros.
Por que as armas são tão injustas?
Seguir sozinho e assumir os próprios pecados significa viver escondido entre os vivos com espíritos podres e caminhar entre os mortos com almas perfumadas. Seguir com os olhos vendados é procurar os que censuraram os nossos Joões e que enterraram o “Correio da Manhã” em uma fria manhã de Quarta-Feira, no jardim de um Castelo negro, de um dia que não parecia ser tão Branco.