Das emergências
Eduardo não gostava de perder tempo. Estava sempre agitado, alternando ânimo com ansiedade como uma mulher que troca de roupas para uma festa. Seus amigos até que se acostumaram com esse jeito “apressado” de ser, fazendo da zoeira cotidiana, o remédio para acalmar o cidadão. Isso ou chamar pra um racha de fim de tarde, pois o cansaço costumava relaxar a ansiedade.
Eis que um belo dia, Eduardo decidiu colocar em prática aquela “nova-velha” promessa de entrar em forma. Como não queria gastar dinheiro com mensalidades de academia, decidiu começar a correr sozinho pela praia. Para tanto, não consultou nenhum treinador ou especialista de qualquer tipo, afinal que mal poderia haver em correr pela praia? Será que todas aquelas pessoas que corriam por ali precisaram consultar alguém pra isso? Pra manter a própria saúde?
Acreditava que não, tampouco perguntaria. Tudo o que fez, foi começar a correr. Inicialmente, correu 10 minutos e já estava morto. Sabia que era sedentário, mas a esse nível tava difícil de acreditar. Entretanto, persistiu. Passados 2 meses, já conseguia correr 3 vezes por semana, totalizando três horas de exercício. Brincando, perdeu 2 kg em pouco tempo, o que o deixou feliz, pois encontrar coragem pra se exercitar depois de um dia inteiro de trabalho, não é pra qualquer um, especialmente se você já passou dos trinta, como era o seu caso. Aos poucos, ia se adaptando a essa nova vida, aprendendo que nunca é tarde para novas lições…
Era uma quinta-feira. Eduardo tinha acabado de trocar de roupa em casa, após chegar do trabalho, e foi correr na praia. Assim que pisou na areia, sentiu “pontadas” no estômago. Pensou logo na dobradinha que comeu no almoço, mas achou que seria passageiro e foi correr. A medida que avançava no percurso, as pontadas iam piorando. Depois de correr uns 3 ou 4 km, chegou a um ponto que não podia suportar. Precisar ir a um banheiro, mas onde achar um naquela área? Eduardo tinha se esquecido que devido ao surto de epidemia na região, muitos bares haviam fechado como medida preventiva, o que tornava difícil a sua missão. Sua sina foi seguir se arrastando por alguns metros que pareciam intermináveis. Até que Eduardo, enfim, concluiu que não iria ter jeito. Teria que se aliviar na rua mesmo. No seu caso, deu sorte de se encontrar com uma vegetação pequena, onde pudesse se esconder. E assim foi em uma das cenas mais embaraçosas de sua vida.
O seu retorno pra casa foi de uma longa caminhada, afinal não poderia ter mais “surpresas” como aquela. Subiu, chegou ao apartamento e tomou um longo banho, enquanto lavava a roupa suja. Naquele momento, depois de tudo o que passou, começou a rir. Ria de uma forma tão natural quanto jamais pensara, após aquele par de horas de tormento.
No dia seguinte, ao chegar ao escritório, Eduardo trazia em sua mochila, um par de tênis, roupa de treino e um rolo de papel higiênico, o que surpreendeu sua colega Júlia, ao observar aquele objeto dentro de uma mochila.
- Ô Edu, por que você trouxe um papel higiênico na mochila?
- Ah, Jú, isso aqui é um lembrete.
- Lembrete? De que, rapaz?
- De que emergências acontecem e que nunca devemos ignorar as ordens que vêm do estômago…
- Cada doido que me aparece…
O andarilho