GIRASSOL SOLITÁRIO
Sou chamado de “Girassol Solitário”, creio que é justificável. Realmente sou um Girassol Solitário e ainda no concreto, pois estou sozinho aqui no alto deste edifício, lutando para sobreviver nesta montanha de concreto. A vida aqui não é fácil, necessito economizar energia e extrair todos os nutrientes possíveis. Não sei bem como aqui cheguei, não sei se foi por força do vento ou de carona por favores de um pássaro, só sei que foi pelo ar. Aqui cheguei semente, me deixara em um pequeno espaço, uma fenda, germinei, nasci. Em minha adolescência, por um período fiquei perturbado. Acontece que daqui de cima sempre observei minha descendência lá embaixo, naquela praça, naqueles canteiros de flores bonitas, pensava por que tenho que viver aqui sozinho se logo ali embaixo está toda a minha gente, e ainda sendo admirada diariamente pelos transeuntes. Quando assim pensava, ficava muito aborrecido. Mas o tempo foi passando, fui amadurecendo, até que percebi que o fato de estar aqui sozinho, ao contrário do que pensava, é uma dádiva que me foi concedida.
Com o passar do tempo percebi que daqui do alto eu vejo a todos lá embaixo, mas eles não me vêem. Aqui ninguém vai me fazer mal, mas ali embaixo tudo pode acontecer. Percebo com a chuva que sou o primeiro a saciar a sede, aqui ela chega primeiro. Aqui o ar é mais puro, tenho uma visão melhor de tudo, inclusive, do céu. Falando em céu, sobre ele abro um parêntese, devemos refletir diante sua vital importância, razão que recomendo mesmo que você o veja tão somente por uma fresta. Mesmo assim o admire ao máximo. Como disse, daqui tenho a felicidade de vê-lo por inteiro, vejo o Sol, a Lua e as Estrelas. Daqui contemplo o Sol nascer e encher de luz minha vida, e mesmo quando se põe, a beleza é imensa. A Lua tem mais luz e me deixa mais seguro. As Estrelas são mais luminosas e me indicam o melhor caminho. Daqui vejo que tem muitos dias de nuvens brancas, mas às vezes são cinzas. Nas nuvens vejo figuras de pessoas aí de baixo, e ainda de outras que estão bem acima de mim. Quanto a estas últimas, são de beleza indescritível, quando as vejo fico em paz, toda a minha confiança deposito nelas. A verdade é que percebi que quando achamos que tudo está embaraçoso, que a coisa está feia, que está difícil de sorrir, que tudo deu errado, na realidade é que só não estamos sabendo carimbar as preciosidades que está na batéia de nossas mãos, a nossa vista. Percebi que não podemos desistir nunca, que quando mais vivemos, mais aprendemos, mais nós lapidamos.
Após ter feito estas pontuações, confesso que para mim ficou tudo simplesmente mais fácil, mais compreensivo. Agora vivo aqui em cima deste edifício alto sem reclamar, com serenidade e muito feliz. Sei que tudo é uma questão de paciência, de espera. Sei que um dia em semente poderei fazer a viagem do retorno, voar e me assentar no canteiro das terras de onde vim, para que isto se confirme basta que se repita a benevolência de um vento de rumo certo, ou quando não, da carona de um pássaro. Só não posso ser negligente, não posso é perder a carona. Eu tenho a certeza de que isto vai acontecer, e aí abordarei no meu porto seguro, mas estou ciente que preciso segurar com firmeza o leme da minha FÉ, e não perder de vista a ESTRELA que me indica a direção. Do resto... é só navegar... navegar sem naufragar.