Formigas de Bacurau
Desde o dia 17 de Março estamos aqui! Nossa janela e porta é a Internet. Para ser justa, minha voz também! Tenho uma filha autista que passa boa parte do dia assistindo vídeos no YouTube. O preferido é o "Vida de inseto".
Ontem, por conta do Dia do Cinema, o Telecine fez uma sessão gratuita do filme "Bacurau". Já assistimos no cinema. Nos sentimos muito impactados e durante dias esse foi o tema de longas conversas e reflexões.
Recentemente, em 2019, assisti "Democracia em vertigem", foi um "tapa na cara" que provocou em mim um olhar mais crítico sobre o Brasil, sobre tudo!
Minha visão já não era o meu "mundinho", meus problemas, tudo se tornou pequeno diante da dor alheia!
Somos um povo que se fez na diversidade cultural, de histórias, de oportunidades. Param a fome marca e dita o ritmo da vida e a estrada. Trabalho é a regra e a pobreza a condição da maioria. Como as formigas do vídeo! Trabalhamos para nos alimentar e para alimentar os gafanhotos. Conformados com este "carma" . Aprendemos a não questionar o por que desta ordem das coisas.
Como em Bacurau, seguimos nossa história, sendo enganados por políticos e políticas que nos mantém obedientes e servis, ano após ano. Trabalhando por comida, por vida!
De repente surge alguém que nos faz ter consciência de nossa situação!Prova que temos o direito de ser. Que nos desperta para o nosso valor, nossa capacidade de mudar rumos de nossa história! Quem tira a "venda" de nossos olhos torna-se inimigo do "sistema", da ordem pré estabelecida das coisas. Aprendemos a pensar por nós e ao mesmo tempo nos outros.
Sempre tivemos de lutar contra os "gafanhotos gringos" que nos exploram, nos humilham, que nos mantém como " cavadores de terra" que não precisam pensar! Ou "latinos" nunca percebidos como iguais na mesa da riqueza!
E nossos algozes percebendo que abrimos os olhos e construímos saídas, destroem nossa autoestima destruindo nossa confiança em nós mesmos! Nos convencem que somos o que pensam e sentem por nós!
Somos mais!
Somos um povo que já nasceu resistindo. Não aceita nenhum jugo! Quilombos, capoeira e caras pintadas para a guerra dão o tom! Nossa alegria, genuína, que brota onde arrancaram lágrimas. Por que temos direito ao sol! Sol que é o mesmo para todos e todos podemos existir sem explorar, sem que muitos sobrevivam com migalhas que caem das mesas dos ditos "Senhores da vida e da morte" dos demais! Existimos e não somos descartáveis!