ROTEIROS DA VIDA
Entre uma viagem e outra, Cilene vai contando suas histórias vivenciadas ao longo de suas bem vividas sete décadas. Após ter ficado privada de seu carro, ela elegeu o transporte por aplicativo como seu modo de se deslocar, para seus afazeres semanais.
Pelo seu temperamento um tanto quanto extrovertido, busca sempre que adentra ao veiculo, puxar assunto com o motorista, não sem antes, observar o estilo do condutor. Nota-se que ele é do tipo calado, que mal dirige um cumprimento, ela se mantém quieta. Consulta o celular, observa a paisagem, sem dar pinta de que está louquinha para engatar um papo.
Raramente a corrida chega ao final sem que, pelo menos a previsão do tempo seja mencionada. E se por ventura, outro veículo buzina por qualquer motivo, o condutor fica bravo e logo reclama dos maus hábitos dos condutores, certamente já é um bom motivo para um começo de assunto, que se estenderá até o final do trajeto.
Certa ocasião, o motorista demonstrou certo ar de que não estava para conversa. Tudo bem, ela entendeu o recado. Trânsito difícil, horário de pico, e a viagem segue. De repente, uma fechada inesperada. Ranger de freios, certo constrangimento por parte do condutor e é chegada a hora de pedir desculpas à passageira.
-Mil perdões, senhora. Creio que por falta de atenção, o carro da esquerda me fechou, causando a freada brusca que eu não pude evitar.•.
Depois dessa desagradável fechada, as desculpas aceitas, a conversa fluiu agradavelmente e a Cilene pode exercer sua maior habilidade: conduzir uma agradável conversa que só termina com o fim da viagem.