UM DIA DE NEVE EM CURITIBA

E Curitiba noivou e se vestiu de branco. E todos queriam participar da festa. Crianças montavam bonecos de neve. Faltou cenoura para narizes, mas não faltou alegria. As ruas foram invadidas. Todos queriam comemorar. As praças com suas gramas pintadas de branco ficaram mais bonitas. A moça que levantava tarde foi acordada para também festejar e resmungava até a hora em que abriu as cortinas do palco e viu a beleza do espetáculo. O céu continuava azul, mas cá embaixo tudo estava enfeitado de algodão. O velho alquebrado pelo tempo saiu saltitando pelo bairro. O homem nu da Praça Dezenove vestiu terno branco. Dizem que sua companheira de pedra tremia de frio. O Shopping Muller parecia cartão postal de um natal que acontecia no mês de julho. Sim, era julho, dezessete de 1975. Nevava em Curitiba, a Capital do inverno brasileiro. Nessa data, Curitiba só tinha uma estação, e ela era branca. A Rodoferroviária ficou às moscas. Ninguém queria viajar. Todos queriam curtir a Cidade do gelo. Quanto mais frio, mais calor nos corações. Curitiba fervia. Na Praça Tiradentes, não teve guerra do pente, pois só havia espaço para alegria. O Esmaga, a Gilda brincavam de atirar bolas de neve e o Bataclã chegou na Boca Maldita de cachecol e sobretudo. A Maria do Cavaquinho vestiu-se de noiva que nem a Cidade e desfilou garbosa para o Anfrísio Siqueira. O curitibano da gema deixou de lado a timidez para poder abraçar os desconhecidos O Palácio de Gelo não era mais em Stalingrado. Mudou-se para o Centro Cívico. A Ponte Preta ficou branca. Será que tinha quentão Lá no Pasquale?

Dezessete de Julho de 2020 está próximo. Quem sabe teremos um repeteco e Curitiba se vista de branco novamente. A platéia pede bis.