TATUAGEM
 
            Eu cresci ouvindo minha mãe falar, - esse menino faz muita arte meu Deus! Realmente eu era uma criança diferente como todas as crianças são diferentes entre si. Mas sim, eu gostava de arte além de ser danado pra caramba. Desenhava em pequenos quadrados de três centímetros traçados com a régua transparente de acrílico, nas entrecapas de meus cadernos da escola, linhas que formavam figuras geométricas estranhas, vermelhas, azuis e pretas, cores existentes naquela época para as já famosas canetas BIC. Bem, seguindo nessa linha de raciocínio, passei a escrever “poemas” aos onze anos de idade, motivado pela minha sensibilidade sobre as guerras entre Irã e Iraque visto nos noticiários da TV. Trágico, mas foi isso meu ponto inicial o que me impulsionou no mundo literário e também foi quando passei a formar minhas primeiras conjecturas sobre o ser humano: O homem era mau, na concepção adjetiva da palavra. E assim foi aflorando e amadurecendo a poesia dentro de mim, da revolta e frustrações aos primeiros versos das paixões juvenis. Guardava tudo com muito carinho em folhas de cadernos, daqueles que só têm dois grampos no meio, com o hino Nacional impresso na contra capa, fazia em bloco de dez folhas, pequenos cadernos. Escrevi milhares deles, eu os  acondicionava em uma caixa grande de papelão, até que um dia minha consorte, fazendo uma faxina geral do tipo "bota fora", achou que tudo aquilo era lixo, o mofo deu tudo, jogou meu “tesouro” de papel-poema fora. Tive que recomeçar do zero em 2009 por aqui no Recanto.
            Bem, mas isso são águas passadas, não devemos remoer o passado, o vento já passou e não move mais moinhos. Talvez você esteja se perguntando por que estou escrevendo sobre isto agora então? Como admirador da arte, do belo, eu também gosto de desenhos e pinturas, acho-os de uma forma especial de expressão, onde o desenhista ou pintor reproduz o que já está impresso na tela de sua mente de alguma forma, talvez até da forma como nem mesmo ele a conhece antes de se materializar em traços e tintas. Gosto também de tatuagens, são fascinantes, e não concordo como muitos a veem sendo coisa de malandro em alusão a encarcerados. Elas fazem parte das primeiras Civilizações, os humanos as criaram em momentos de inspiração e celebração, sendo as primeiras datadas de entre 4000 e 2000 a.C.. Nunca tatuei meu corpo, até os meus cinquenta anos de idade. Foi quando resolvi, sem “consulta” prévia de ninguém fazer a minha. Já era hora. Com mais de meio século de existência trabalhando e pagando impostos, caberia à minha pessoa e somente a mim e não a outros, decidir, apenas comunnicar Tatuagem é marca, e marca uma decisão que não tem volta. Se existe a possibilidade de arrependimento é melhor tirar a ideia da cabeça, esquece.
            Então foi assim que marquei meu corpo a uns cinco ou seis anos atrás, sem arrependimento, sem ninguém para me chamar de louco depois desta idade, simplesmente acionei o botão do "foda-se!" Independentemente do que falem, eu me sinto bem, e adoro o que fiz. Já se aproximando os sessenta, já estou pensando na próxima. Com o mesmo tema da primeira, porque não sou jornal de variedades. Já tenho a arte na cabeça, faltando agora decidir o artista que vai fazer a transcendência da obra. Não faça nada que você venha a se arrepender depois, nem de ter feito ou de ter deixado de fazer. A vida é feita de decisões e as tatuagens te marcam para sempre. É uma arte permanente que você vai carregar na pele enquanto vivo estiver, gostem ou não!
 
Ricardo Mascarenhas
Enviado por Ricardo Mascarenhas em 17/06/2020
Reeditado em 24/01/2021
Código do texto: T6980434
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