A procissão da morte
Andam. Depressa ou devagar. Olhando, analisando, conferindo e perguntando quanto vale o produto.
Nesse momento, distante dos pensamentos alheios, uma nuvem escura se aproxima, muito silenciosa e perspicaz. Rende até mesmo os inocentes.
Avenidas lotam, buzinas gritam, pessoas berram. É gente pra lá, é gente pra cá. É gente demais indo embora todo dia.
E mesmo que cheguem mais, quem parte deixa saudades, deixa seu olhar apagado por estar tampado, sem uma última visão.
Pessoas continuam a atravessar. Aglomeração. Não há segurança, nem espaço de 2 metros entre as pessoas. Esbarram, desculpa daqui, xingos dali. A voz ecoa.
A nuvem escura cada vez mais perto. A passos lentos, a contemplar todos que ali estão. Seleciona cuidadosamente suas vítimas? Não sabemos. Mas ceifa.
E por que ela ceifa? Porque gente na rua sem precisão, pede demissão sem querer da vida. Há aqueles que levam um presente de mal gosto pro amigo, pra mãe, pro pai, pros avós. E mata. A saudade não mata literalmente, mas deixa um pedaço jamais preenchido.
Se esses que, andam por cá, atravessam por lá, discute daqui, xinga dali, tivessem a decência do valor à vida, muitos botões de rosas estariam abertos, espalhando o doce perfume de sempre.
Felipe Henrique, 11/06/2020