CORRENTE DO BEM

Eu vejo todo um caminho estreito, quase da largura de um dos pés, desenhado no chão da mata. Uma tropa inteira de bichinhos diminutos, tomados por uma inquietação do instinto, parece ter revirado em balbúrdia a superfície do solo. Lembra uma pista de corrida de tampinhas que fazíamos aos recreios no ensino fundamental, no Nagem Abikahir. Sigo em frente pela floresta em busca de uma flor desabrochada que distraída é delicadamente coletada por minhas mãos experientes e insaciáveis por esmiuçar floras locais. Alguns metros adiante, percebendo um batuque singelo proveniente do solo, topo com o mundo de formigas percorrendo a estrada da natureza. As vezes entre elas percebo uma comunicação feita boca a boca, possivelmente indicando os caminhos das folhas mais saborosas. Ora elas seguem desengonçadas deixando cair aquele enorme pedaço de folha fresca, mas, como são determinadas, rapidamente erguem aquele órgão foliar massudo para elas e retomam o caminho do formigueiro, eventualmente auxiliadas por suas companheiras.

Como essas bravas e valentes formigas, na espinhosa missão de garantir a sobrevivência da colônia, nós seres humanos precisamos tomar as rédeas da coletividade para promover uma espécie de corrente do bem. Nos difíceis tempos atuais, sob uma espessa nuvem de acontecimentos nefastos, não tenho enxergado grande progresso em nosso país em relação a ações coletivas. Uma cepa de ignorância, transformou-se também em epidemia e coloca em extremo risco a vida de muitos cidadãos. Custa ter um sentimento de coletividade?

Enfiados nessa loucura de negação e intransigência nos tornamos o epicentro mundial da maior pandemia da nossa história e poucas ações efetivas têm sido tomadas de fato. Além das irresponsabilidades costumeiras do chefe do poder executivo, uma turba de inconsequentes, exemplados pelo presidente, muitas vezes sob a estirpe de opiniões mentirosas e notícias falsas, se apodera dessas artimanhas para ignorar o perigo do coronavírus. Para o azar destes, ainda existe uma corrente do bem que desafia com muito esforço, coragem e firmeza as duas epidemias consolidadas em terras brasileiras. São muitos profissionais da saúde e parcelas da população devotadas à empatia e respeito à vida dos próximos.

Façamos como as formiguinhas determinadas na tarefa vital de garantir a sobrevivência. Sejamos mais fraternos com os semelhantes.