No meio da ralé
No baixo meretrício, um submundo, eu caminhava. Era uma noite qualquer, eu andava, perambulava, despreocupado. Algumas vezes temos de fazer esse percurso, deixarmos de ser tão sérios, tão importantes.
Nos faz bem.
Bares, os prostíbulos, a ralé, o povo. Ali, naquele antro, conheci uma mulher. Sem eira nem beira. Mas simpática, humilde. Ali, em busca do sustento, do pão de cada dia. Mulher de carne e osso, como as mulheres de bem.
Me chamou, disse-me: ----- Ei, gostoso. Convidou-me, queria fazer um programa.
Respondi-lhe:
--- Não, não vou, minha querida. Estou duro, sem grana, fica para a próxima.
Ela:
------ Me arruma 1 real, aí, “tô no osso”. Me dá essa força – pediu-me, sarcástica.
Dei-lhe 2 Reais.
---- Qual teu nome? Quis eu saber
–-- Leila, me respondeu, indo embora.
Boa noite, Leila – desejei-lhe.
Obrigada, coroa, ela agradeceu, a meretriz, Leila.
Sorriu – e sumiu, na penumbra da noite.
Continuei andando, na penumbra. Pensei: Estou no baixo meretrício. Aqui habita a ralé infame, esta casta maldita, marginal, animal.
Área vermelha, pecaminosa. Há porém o alto meretrício. Lugar igualmente bandido, infame, marginal. Tão infame quanto o da ralé, o baixo meretrício.
Em casa lembrei da passagem bíblica: "Meretrizes e publicanos vos precedem no Reino dos Céus".