Morando aqui na Chapada Diamantina a gente vai criando uma certa “simpatia” por bichinhos que considerávamos NOJENTOS na cidade. Quer dizer… Barata é BARATA (minha filha diz que foi o animal que SATÃ CRIOU e eu ACREDITO nela). Mas existem outros bichinhos nojentos de diversos gêneros e tamanhos. Eu estava no banho e eram pouco mais de 3h da manhã… discutindo “atualidades”, com outras seis personalidades minhas… quando ele entrou. Era um besouro preto, bundudo, afetado e com anteninhas, que pareciam não mais servir… Já que ele estava completamente bêbado, indo pra tudo quanto era lugar, se batendo e caindo.
Pensei comigo rosnando: “Este Filho da Puta vai estragar meu banho! Vem se afogar AQUI! Vou salvar ele…”. Deixei o chuveiro bem forte pensando que – mesmo frenético e assustado – se afastaria do perigo, suas antenas diriam: “Eiii, cê vai morrer ali, ôw… energúmeno.”. Mas as antenas pareciam de fato, não funcionar… e ele ia e voltava se afogando várias vezes. Comecei a sentir pena (e não queria que ele encostasse no meu dedo mindinho). Já com o corpo todo ensaboado, (puto da vida pela “noite-sem-fim” e pelo banho interrompido), parei em sua frente e disse: “olha… vou te dar um peteleco de leve… aí cê vai pro outro lado do banheiro e se manda daqui…”. Só que…
NÃO HÁ PETELECO LEVE quando o receptor do peteco possui um corpo que dá menos da metade do seu dedo indicador. Quando bati… o besouro voou do box e foi SE ESTRUPIAR TODO na parede do outro lado do banheiro. “Tirei ele da água, rahá!!!”, gritei alucinado… “E aleijou o animal no processo”, disse-me uma voz, mas a ignorei… Eis que ele voltou.
Passei a arrastá-lo pelo box com o dedão do pé até a parte seca. Sempre pensando que eu estava sendo uma “Criatura da Nova Era”, um abençoado anjo noturno que se preocupa com os bichos as quase 4h da manhã… Só que na prática: toda hora em que ele alcançava a água, eu dava uma PORRADA NELE. “nhãão, aqui tem águaa…” e “POW!”. E ainda me sentindo o Buda. Suas asinhas meio abertas de quem já se entregou eram comoventes. Estava morrendo. “Death and Transfiguration… for Me… and You, Meu Xuxu”. Saí do banheiro desolado… Não tinha Noel Rosa que resolvesse (mentira… resolveu). Ainda não há quem prove que a morte seja umas férias desse mundo louco, com gente que fica dando peteleco nos outros… Mas desejo-te o melhor, caro amigo besourinho.